O encerramento das atividades do Monitor Campista — a última edição deve ir às bancas nos próximos dias, depois de 175 anos — não surpreende numa cidade que despreza sua história como se dela tivesse vergonha. Vergonha de um passado construído com base na exploração da miséria e boa-fé de um povo outrora pioneiro e guerreiro.
Nada mais previsível para uma cidade que derrubou o Trianon — um dos mais belos teatros do Brasil — e pôs abaixo o Cine Don Marcelo e o Coliseu. O que esperar de uma gente que entrega aos cupins os belíssimos solares dos Ayrises e Visconde de Araruama, a Lira de Apollo e o Hotel Amazonas, apenas para citar alguns?
O fechamento do Monitor Campista está cercado de nebulosas transações e só o tempo poderá clarear uma eventual negociata urdida nas promíscuas relações público-privadas. Oficialmente o jornal está deixando de circular porque suas despesas superam as receitas, estas últimas combalidas com a retirada do Diário Oficial da Municipalidade após um século de publicação. Se houve insensibilidade dos atores envolvidos no processo que resultou neste desfecho, ou desinteresse dos donos do jornal (Diários Associados) em garantir o funcionamento a despeito dos prejuízos, são temas que não discuto. O que me move é a indignação com a passividade e conivência de uma cidade que caminha para o abismo. E se sabe disso, pouco se importa.
Fecha o Monitor Campista porque governantes, empresários, representantes classistas, enfim, a sociedade optou por prescindir de uma mais voz, de mais um canal de expressão. Essa gente, que se convencionou chamar de “elite campista” é herdeira dos barões do café e do açúcar, aqueles que exploravam as riquezas e as gentes da planície para gozar dos prazeres da antiga capital do Império ou da Europa. Nada de novo sob o sol. A elite remoçada substituiu a carruagem pelas caminhonetes cabines duplas e outros carros importados. Sofisticaram a exploração mas, pouco criativos, gozam, dos prazeres nas mesmas plagas, além da paradisíaca Búzios, enquanto continuam exaurindo as riquezas e as gentes que sustentam suas futilidades. Aliás, não é à toa que é nas colunas sociais abundantes que se sentem “importantes” de verdade.
Fechar um jornal é mais do que calar uma voz ou um canal de expressão — por menos expressivo que ele possa parecer —, porque reduz as opções de diversidade de informações, opiniões, visões de mundo. Isso é mais grave numa cidade bipolarizada e onde as principais forças de mídia representam segmentos políticos distintos, mas são antagônicos apenas nos interesses de ocasião.
É um momento grave para a democracia. Sem exagero, o fechamento do Monitor Campista não representa apenas o desemprego de 45 profissionais. É mais que isso: sinaliza que a sociedade está se lixando para a coletividade e que cada um mira o próprio umbigo como se fosse o centro do mundo, sem nenhuma responsabilidade com os graves e antigos problemas sociais da comunidade. Fingem não perceber que corremos o risco de virar reféns permanentes das quadrilhas que se revezam na tarefa criminosa de privatizar os bens públicos para repartí-los entre aliados recrutados nos mais diferentes setores que dirigem a cidade.
Campos fica mais pobre na mesma proporção em que a minoria de sua elite enriquece materialmente e talvez até por isso mesmo. Muito dinheiro aumenta a tentação desde os primórdios tempos e poucos, muito poucos à ela resistem. Mas é cômodo culpar apenas os grupos políticos siameses e momentaneamente em campos opostos. Eles são fruto do meio, são o resultado da química maldita de uma sociedade que fecha jornais, teatros, cinemas e renega a própria história por um inconfessável complexo de culpa. E quanto mais se esconde, mas afunda no massapê dos canaviais também em extinção.
Uma sociedade que fecha jornais é como aquela que começa queimando livros e acaba levando pessoas às fogueiras.
Nada mais previsível para uma cidade que derrubou o Trianon — um dos mais belos teatros do Brasil — e pôs abaixo o Cine Don Marcelo e o Coliseu. O que esperar de uma gente que entrega aos cupins os belíssimos solares dos Ayrises e Visconde de Araruama, a Lira de Apollo e o Hotel Amazonas, apenas para citar alguns?
O fechamento do Monitor Campista está cercado de nebulosas transações e só o tempo poderá clarear uma eventual negociata urdida nas promíscuas relações público-privadas. Oficialmente o jornal está deixando de circular porque suas despesas superam as receitas, estas últimas combalidas com a retirada do Diário Oficial da Municipalidade após um século de publicação. Se houve insensibilidade dos atores envolvidos no processo que resultou neste desfecho, ou desinteresse dos donos do jornal (Diários Associados) em garantir o funcionamento a despeito dos prejuízos, são temas que não discuto. O que me move é a indignação com a passividade e conivência de uma cidade que caminha para o abismo. E se sabe disso, pouco se importa.
Fecha o Monitor Campista porque governantes, empresários, representantes classistas, enfim, a sociedade optou por prescindir de uma mais voz, de mais um canal de expressão. Essa gente, que se convencionou chamar de “elite campista” é herdeira dos barões do café e do açúcar, aqueles que exploravam as riquezas e as gentes da planície para gozar dos prazeres da antiga capital do Império ou da Europa. Nada de novo sob o sol. A elite remoçada substituiu a carruagem pelas caminhonetes cabines duplas e outros carros importados. Sofisticaram a exploração mas, pouco criativos, gozam, dos prazeres nas mesmas plagas, além da paradisíaca Búzios, enquanto continuam exaurindo as riquezas e as gentes que sustentam suas futilidades. Aliás, não é à toa que é nas colunas sociais abundantes que se sentem “importantes” de verdade.
Fechar um jornal é mais do que calar uma voz ou um canal de expressão — por menos expressivo que ele possa parecer —, porque reduz as opções de diversidade de informações, opiniões, visões de mundo. Isso é mais grave numa cidade bipolarizada e onde as principais forças de mídia representam segmentos políticos distintos, mas são antagônicos apenas nos interesses de ocasião.
É um momento grave para a democracia. Sem exagero, o fechamento do Monitor Campista não representa apenas o desemprego de 45 profissionais. É mais que isso: sinaliza que a sociedade está se lixando para a coletividade e que cada um mira o próprio umbigo como se fosse o centro do mundo, sem nenhuma responsabilidade com os graves e antigos problemas sociais da comunidade. Fingem não perceber que corremos o risco de virar reféns permanentes das quadrilhas que se revezam na tarefa criminosa de privatizar os bens públicos para repartí-los entre aliados recrutados nos mais diferentes setores que dirigem a cidade.
Campos fica mais pobre na mesma proporção em que a minoria de sua elite enriquece materialmente e talvez até por isso mesmo. Muito dinheiro aumenta a tentação desde os primórdios tempos e poucos, muito poucos à ela resistem. Mas é cômodo culpar apenas os grupos políticos siameses e momentaneamente em campos opostos. Eles são fruto do meio, são o resultado da química maldita de uma sociedade que fecha jornais, teatros, cinemas e renega a própria história por um inconfessável complexo de culpa. E quanto mais se esconde, mas afunda no massapê dos canaviais também em extinção.
Uma sociedade que fecha jornais é como aquela que começa queimando livros e acaba levando pessoas às fogueiras.
Atualização às 18h12 para correção de erros ortográficos encontrados até o momento.
Sensacional. O que espero é que a história saiba julgar corretamente os responsáveis por mais este crime.
ResponderExcluirNão sei se diante do excelente comentário-desabafo do dono desse blog algo mais tenhamos a dizer.
ResponderExcluirSou campista , mas sinto imensa vergonha de sê-lo.
Repudio o passado que essa pseudo- elite insiste em preservar e nos IMPOR enquanto , devido a viseira intelectual, não movem um dedo para preservar um passado que representa a verdadeira história de uma cidade e de um povo.
Faço de seu desabafo Ricardo André, o meu e de minha família.
ResponderExcluirPobre cidade rica.
Abraços
Ter serenidade na dor ...
ResponderExcluirFoi a lição deste seu magistral texto!
Walnize carvalho
Brilhante!
ResponderExcluirCaro Ricardo,
ResponderExcluirEntendo seu desabafo e o respeito...afinal, seus motivos são mais que profissionais, e a sua seriedade não se questiona...
No entanto, há alguns senões que gostaria de trazer à baila:
No Brasil, jornais defendem os interesses dos donos, e o Monitor não foi diferente...
Comodamente instalado sob os favores do D.O., preferiu uma "linha neutra" que sabemos não existir, e deixou de prestar serviço relevante a essa cidade, ou seja: desmascarar e denunciar os mandos e desmandos dos dois grupos de polarizam o poder local...
Só nos útlimos tempos, já encurralados pela falta de dinheiro público, passou o Monitor a se manifestar de forma mais veemente, mas ainda assim, insuficiente...
O conteúdo empobreceu por demais, a despeito de ótimos profissionais como você e outros que conheço e que trabalham aí, mas capitaneados por um editor chefe acéfalo, arrogante e o que é pior: incompetente...
O Monitor não desperta a sociedade, porque nunca se mostrou relevante para ela na defesa dos seus interesses...ou pelo menos, não foi capaz de dizer que o fazia, o que dá no mesmo...
Como já disse, no mundo todo, jornais nascem e morrem...O NY Times hipotecou sua sede, e balança ao sabor da crise...
O respeito a seus sentimentos, não me impede de discordar de você: no Brasil, jornais não protegem, nem se relacionam com Democracia...muito ao contrário, é do modelo assis chateaubriand, do qual o monitor é parte, que se fortaleceu a idéia de aprisionamento e manipulação da opinião pública, para cortejar o poder e as elites...
me entristece o fim do Monitor pelos seus funcionários, ACIMA DE TUDO...eles são a possibilidade de reerguer o jornalismo local...agora, prédios, imóveis, redações e patrimônios não fazem jornalismo...pessoas o fazem...como você faz aqui...
O acervo, cuide dele o Arquivo Público...
Não é a manutenção do Monitor que garantirá nossa mobilização para superar esse modelo de 20 anos...
Mas talvez a sua morte seja o começo dos questionamentos...aí quem sabe, o "sacrifício" valeria à pena...
Um abraço...
É realmente lamentável assistir imóveis e impotentes ao desabamento desse titã que é o Monitor Campista. Parabéns Ricardo André, por sua crônica eivada de emoção e coragem.
ResponderExcluirSe os acionistas estão querendo o fechamento pelo momentâneo prejuízo, mostram falta de visão e estão dando um tiro no pé! Provavelmente o Administrador do Fundo de Ações é míope ou incompetente, pois esquece que a população do Município tem uma previsão de crescimento de mais 250 mil habitantes nos próximos 10 anos!Será que não sabe dos bilionários empreendimentos que estão sendo feitos na região? Vão chorar amargamente pela oportunidade perdida! Com este "comportamento" a tendência destes investidores é acabar na bancarrota. O Monitor Campista é um promissor jornal para este futuro! Quem viver, verá!
ResponderExcluirSávio Roberto Moreira Gomes
Digna de nota a sugestão do Xacal sobre o assunto: http://atrolha.blogspot.com/2009/11/palpite.html
ResponderExcluirNeste momento é muito mais relevante, mesmo que não tão fácil de se colocar em prática. Abaixo-assinados não reverterão a decisão de um grande grupo de comunicação...
Ricardo você está mais que certo.
ResponderExcluirTristeza!!!!!!!!!
Parabéns, pelo seu desabafo e concordo com você. Nesta história do Monitor, entre tantas conquistas e apreendizado para mim, está ai , a oportunidade de está na sua lista de amiga. Ao longo, desse anos, tive o privilégio e conhecer pessoas de caráter e justas como você.
ResponderExcluirdeu em o globo
ResponderExcluirIrritado, Pudim tenta intimidar fotógrafo
Gazeteiro na semana passada, deputado fluminense ontem passou a manhã no plenário
A hostilidade de alguns deputados contra repórteres do GLOBO, ontem, ganhou até tons de ameaça. O deputado fluminense Geraldo Pudim (PR) não gostou nada quando viu o fotógrafo Roberto Stuckert Filho registrando a sessão deliberativa da manhã, no plenário.
Pudim percebeu que era fotografado, como vários parlamentares naquele momento, e subiu até o mezanino, um dos locais onde ficam os fotógrafos credenciados na Casa. O parlamentar segurou com força a credencial do profissional, perguntou quem ele era, conferiu o nome no documento e o ameaçou, afirmando que iria entrar com uma representação contra ele.
Procurado mais tarde, Pudim, mais calmo, contou a seguinte história: disse que não estava aborrecido com as reportagens sobre os gazeteiros, mas que ficou irritado porque um fotógrafo do GLOBO teria dito a um colega seu, Felipe Bornier (PHS-RJ), na última terça, que ele (Pudim) ia se "ferrar" numa reportagem que seria publicada no dia seguinte. E mais: que o fotógrafo teria chamado Pudim de "babaca" na conversa com Bornier.
— Subi para tomar satisfação, mas vi no crachá que não se tratava do fotógrafo que o Bornier me falou. Não posso, a esta altura da vida, aturar isso — disse Geraldo Pudim, que não soube informar o nome do fotógrafo que teria falado com seu colega. Leia mais em O Globo
Moro em Campos desde 1982 e ao conhecer o povo e a política campistas, pude fazer uma simples comparação:
ResponderExcluirCampos se parece como uma "BATEIA" (Aquela ferramenta em forma de bacia de madeira que os garimpeiros usam para separar ouro da areia) "muito grande, raza e vazia, destinada a cata do ouro, mas apenas com uma pequena pepita do tamanho da cabeça de um alfinete no fundo, representando sua cabeça. Abandonada essa bateia, sua desdita é acabar se rachando pela inutulidade.
INFELIZMENE, é o que nos prediz a política e os políticos campistas que se sapoiam simplesmente no próprio enriquecimento.
A CIDADE E O POVO QUE SE DANEM.
Xacal vc é campista ? se nao for vai t.. no c...
ResponderExcluir"Xacal" muito pertinente seu discurso mas não achas que demorou muito a fazê-lo? Discutir linhas editoriais é o que menos importa agora pois Um PATRIMÔNIO está morrendo. Queira ou não isso é fato. Agora querer colocar as colocações que você fez podendo ter feito-as há tanto tempo? putz... Pior é saber que tem gente que ainda te leva a sério.
ResponderExcluirParece que o fechamento do Monitor já são favas contadas e não adianta chorar o leite derramado. A melhor saída no momento é os jornalistas que trabalham e atuam no jornal negociarem com os responsáveis atuais pelo Monitor cederem, vender ou arrendar para eles o Monitor Campista com todos os equipamentos e máquinas formando assim um grupo para gerir o jornal.
ResponderExcluir"O que me move é a indignação com a passividade e conivência de uma cidade que caminha para o abismo. E se sabe disso, pouco se importa..."
ResponderExcluirVocê vai lutar contra um tal de Garotinho que tem a polícia, a mídia, o judiciário, a classe política da cidade(90%), a câmara de vereadores, candidato à presidência da OAB, deputados estaduais e federais, UJS, empreiteiros, desembargadores, igrejas, tudo com ele, você vai lutar contra um cara desses, isso não é passividade, isso é burrice...
"Fingem não perceber que corremos o risco de virar reféns permanentes das quadrilhas que se revezam na tarefa criminosa de privatizar os bens públicos para repartí-los entre aliados recrutados nos mais diferentes setores que dirigem a cidade"
Você acha que ainda corremos este risco?
Infelizmente essa cidade não caminha para o abismo, ela CAIU no abismo.
ResponderExcluirO que não dá para entender é que se 8 anos de gov. estadual propiciou uma intrincada rede entre executivo , legislativo e judiciário, por que, a nível FEDERAL não se toma providências?
A máfia japonesa e italiana daqui a pouco é ¨café pequeno¨diante dos descalabros de Campos.
Me desculpe anonimo acima ,mas burrice é fechar os olhos e entregar os pontos .
ResponderExcluirA quadrilha que está no poder hoje só existe porque brigou para que ¨Zezé¨ Barbosa (o nordeste começa aqui)fosse destituido.
Lamentavelmente fomos enganados.
Aliás, não só nós eleitores, mas até os amigos mais próximos do chefe da quadrilha.
Ao comentarista:
ResponderExcluirNão sei o que você já leu da trOLha, e você pode(é claro)concordar ou não com o que escrevo...
Mas dizer o que "não" escrevi é de quem não "SE" leva a sério, e muito menos o debate que participa:
essa minha análise é recorrente: aqui, lá na trOlha, e em outros blogs...
o que me proponho, posso até não conseguir, é avaliar "o que" levou a essa situação, e aí, meu caro(a), não dá para fazer isso sem diagnosticar "TODO" o problema...
ter uma visão "exclusivamente patrimonial" como a sua é que não ajuda...
patrimônios vão e vêm...são as pessoas que importam...
não tem monitor...uma pena...mas e as pessoas...???
é sobre elas que devemos focar as propostas...logo, é preciso analisar o que elas fizeram("linha editorial") para que não repitam os mesmos equívocos no futuro...
um abraço...
Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirAo comparamos a nossa cidade do início do século XX com a cidade do início do século XXI observamos o grande declínio em todos os níveis (político, social e cultural).
O que era o Boulevard da Imprensa nas primeiras décadas do sec. XX?
Era o coração cultural, intelectual da cidade. Tinhámos o Trianon, Orion, o café Tamberlick, ponto de encontro de Azevdo Cruz, Theophilo Guimarães,Múcio da Paixão, Eloy Ornellas, Sylvio Fontoura e outros, que davam intensa vibração às atividades intelectuais literárias.A sede do jornal Monitor, a revista Aurora-Lettras-Artes e Sciencias circulando, além dos jornais Gazeta do povo,A Tribuna e os periódicos como A Matraca, A Tesoura, O Palpite dentre outros.
De 1835 a 1935 foram publicados mais de 172 jornais nesta cidade, uns tiveram vida longa outros foram efêmeros e o mais interessante que deste período tão rico da imprensa campista o ultimo a morrer foi o Monitor Campista.
Hoje fiz um gesto automático, procurar o jornal na minha caixa de correio e encontrei um VAZIO.
Mas vamos continuar na luta, não podemos ficar quietos e passivos a toda aberração que acontece nesta cidade.
Maria Alice Pohlmann