domingo, 30 de maio de 2010

Para o TRE eles são iguais. E nós o que vamos fazer?

A decisão do TRE de cassar o mandato da prefeita Rosinha Garotinho e condenar à inelegibilidade por três anos seus três antecessores, pode ser entendida, à primeira vista, como um indício de que chegou ao fim o tempo de bandalheira e impunidade que vem caracterizando a política local nas últimas eleições, mas não passa de um novo capítulo desta novela de insensatez protagonizada por atores canastrões que não dão a menor importância se a platéia vai aplaudir ou vaiar no final, desde que a bilheteria esteja garantida.
A novidade são atores estreantes nesta opereta de terceira: suas excelências da Corte Eleitoral com seu julgamento estéril e indícios de pressões extraprocessuais. Nenhuma das punições tem efeito imediato e para todas cabem recursos infindos (tanto no próprio Tribunal quanto no Superior) e sabe-se Deus quando haverá decisão definitiva. Minha intuição diz que deve ser longe, quase nunca. E nunca, porque vão permanecer na cena política local e estadual os mesmos ingredientes da amarga receita: desprezo pelo bom senso, pelo respeito às leis, manipulação da justiça e um desapego à verdade capaz de corar frade de pedra. Todos mentem. Juram confiar em Deus, na Justiça e no julgamento popular, como se fossem as pessoas mais bem intencionadas e puras do Planeta.
O maior mérito do TRE foi oficializar, ao condenar por abusos diversos, Garotinho, Rosinha, Arnaldo Vianna e Alexandre Mocaiber, o que todos nós sabíamos: eles são frutos de uma mesma e danosa árvore.
O que pratica-se aqui é a política do altíssimo risco. Desconhecem limites legais ou éticos, tanto nas campanhas eleitorais quanto no exercício do poder. Quando são candidatos não pensam duas vezes antes de enxovalhar adversários com denúncias das mais contundentes, mesmo sem provas ou apenas indícios. Usam os meios de comunicação aliados, alugados ou próprios, como se não existisse legislação específica que garantisse a todos acesso igualitário. Quanto eleitos, misturam o público com o privado numa única conta. Os jornais e rádios amigos são os que recebem a maior fatia das verbas publicitárias, e as empreiteiras que financiaram ou financiarão as campanhas são as favoritas nas licitações de obras e contratações de prestadoras de serviço. Portanto, quando sofrem um revés como este último, contabilizam como parte do risco do negócio e seguem em frente.
Desta vez não se pode negar que houve a participação significativa de outro ator importante (e não tão diferente dos adversários): o governador Sérgio Cabral, o grande beneficiado pela decisão do TRE da última quinta-feira. Sim, o atual governador guarda muito mais semelhanças que diferenças com os seus ex-aliados daqui da Planície, e tirar o ex-governador Garotinho da campanha sucessória é o objetivo do atual governador. Mas o tiro pode sair pela culatra, porque isolado numa legendinha de aluguel com pouco mais de um minuto de propaganda eleitoral no rádio e TV, Garotinho concorria sem chances, como o aventureiro de sempre, e agora ganhou o cenário ideal para tirar do armário do camarim a fantasia favorita e desempenhar o papel , mais uma vez, da vítima perseguida. Do homem bom e justo que luta contra o mal, do pequeno David e o gigante Golias e blá, blá, blá...
É preciso admitir um fato: Garotinho é mesmo um dos políticos mais perseguidos da história da República brasileira, como repetem ad nauseam, ele e seus ventríloquos. Mas é também incontestável que tem assento cativo e destacado na galeria dos maiores perseguidores. Quem já ouviu seus programas de rádio sabe do que estou falando. Garotinho é daqueles políticos que conhece tão bem os próprios vícios que é inacreditavelmente convincente ao impingir os mesmos aos seus desafetos de ocasião. É capaz de bater a sua carteira e sair gritando: “pega ladrão! pela ladrão!”
Mas o êxito político de Garotinho, Cabral e dessa gente toda, é fruto do analfabetismo político de que nos falava Bertolt Brecht. Não haverá massa crítica suficiente para varrer esse tipo de gente para o lugar onde merece estar sem o exercício livre e robusto da cidadania. Em pleno século 21 ainda há quem confunda favor com direito. O eleitorado que mantém esse tipo de político no poder é mesmo que trocava voto por dentadura e hoje ou troca-o por dinheiro vivo, cheque-cidadão, bolsa-família ou qualquer outra “vantagem” que seria um direito de fato e não uma barganha que afronta aos mais elementares preceitos éticos.
Sair desse círculo vicioso não é fácil. Demanda tempo, disposição para o diálogo com os diferentes, tolerância e contenção de vaidades. E não é de hoje que sabemos que só há dois caminhos a tomar: romper o imobilismo, como propõe o blogueiro Douglas da Mata (aqui) ou continuar lamentando , lamentando, lamentando...

12 comentários:

  1. André, para quem te cnhece o texto é claro, pontiagudo, ácido, não surpreende.
    Mas a única novidade, data vênia, está no final do texto: "contenção de vaidades".
    A chave, a saída pode estar aí.
    pensem nisso.

    Pedro

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  2. MEU DEUS, ESSE É O TEXTO QUE DEVE FAZER PARTE DE UMA PANFLETAGEM NA TERÇA-FEIRA; RICARDO, MEU DEUS, É ESSE O TEXTO...

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  3. ¨Até qdo vc vai ficar usando redea¨,
    até qdo?

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  4. Parabéns, Ricardo André! Seu texto deveria ser distribuído nas escolas e universidades; no mercado municipal; na rodoviária, nos pontos de ônibus, nas vans... e onde mais circulamos todos nós... sem esperança. É texto claro, enxuto e direto tanto para quem é alfabetizado quanto para aquele que lê bem apenas o mundo, não lê a palavra escrita. Esse é que é "santinho" bom... e você é que é o nosso cara!!

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  5. PESSOAL, ACHO BOM TODOS PARAREM COM ESSAS BESTEIRAS DE FALAR MAU DO GAROTINHO, TUDO ISSO QUE ESTÁ ACONTECENDO MAIS UMA VEZ, NÃO VAI DAR EM NADA, TODOS ESSES ÓRGÃOS,(MPE,MPF,PF,TRE,STF, E OUTROS)ESTÃO MACUNADOS COM ELE, E NÃO É DE HOJE QUE TODOS NÓS JÁ SABIA-MOS E ELE CONFIRMOU AGORA COM SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS. AGORA EU PERGUNTO, ESSES ÓRGÃOS VÃO INCRIMINAR A ELES PRÓPRIOS?---"ME POUPEM" INFELISMENTE QUEM O CRIOU FOI NÓS MESMOS, CAMPISTAS, E POR CONTA DISSO, NOSSA CIDADE ESTÁ CONDENADA A SER COMANDADA POR ESSE POVO POR MUITOS E MUITOS TEMPOS. O POVO DE CAMPOS TEM O QUE MERESSE.
    OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM.

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  6. NÃO HÁ CONDENAÇÃO NENHUMA!
    NÓS O COLOCAMOS E NÓS O TIRAREMOS.
    Se agentes Federais houveram que se ¨juntaram¨ à erva daninha, outros existem, que NÃO o suportam.
    Outros que são ÍNTEGROS e farão de tudo para ajudar a colocá-lo onde bem merece: NO LIMBO DA HISTÓRIA!

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  7. Taí, nessa eu concordo com você. Só esqueceu de colocar o Lula no mesmo saco .

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  8. Caro Ricardo, esse é o tipo de texto que muitos gostariam de tê-lo escrito. Na bucha, no alvo... Que bom se esse sentimento contaminasse os milhares de desesperançados, não só aqueles que se entregaram as vãs promessas, mas sobretudo aqueles que foram pra casa, com os seus sonhos debaixo do braço...
    Parabéns, meu irmão.

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  9. Pela primeira vez em mais de um ano, aproveitando alguns dias de meia folga, abro meu email, vejo alguns blogs e me deparo com esta nota e alguns comentários sobre ela. Sinceramente, meu irmão, a nota não cabe enquanto análise da realidade por parte de alguém que pensa e, quando quer, usa o bom senso. Misturar água limpo e esgoto é superficializar o comentário para satisfação do ego e do apetite voraz dos insignificantes quanto ao sangue dos que significam alguma coisa. Erros todos cometemos, mas comparar Garotinho com Arnaldo e Mocaiber é o mesmo que comparar Brizola com Chagas Freitas. Reflita, caro amigo e não perca o bonde da história...

    Avelino

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  10. Avelino, saúdo sua iniciativa de criar um Blog, onde escreverá suas análises que terão de mim o mesmo respeito que espero que tenha das minhas.
    Afinal, democracia não é a convivência dos contrários?
    Um abraço e boa estada na blogosfera.

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