Amaro, seguidor de Bento e padroeiro da Baixada
Texto: Avelino Ferreira (aqui):
Quando Bento (que viveu entre os anos 480 e 544 d.C.), nascido “de boa família” da cidade de Spoleto, na Itália, decidiu-se pela vida religiosa, afastou-se de Roma e, a umas cinqüenta milhas, estabeleceu-se na cidade de Subíaco, dentro de um palácio abandonado, construído pelo Imperador Nero, em meio a uma floresta. Fixou-se ali, numa caverna próxima a uma corrente d’água artificial, a partir do represamento de um rio, em local íngreme. Até os alimentos que um admirador lhe mandava, era-lhe fornecido por meio de cordas que desciam os sacos cheios de produtos até a entrada da caverna.
A vida recolhida de Bento foi comentada na cidade e nas aldeias e, em pouco tempo, muitos jovens se interessaram por ele e seguiram até Subíaco para tornarem-se seguidores daquele homem que abandonou tudo para viver como monge. Um desses jovens e que foi levado pelo pai “para ser educado por Bento”, era Mauro.
Ao deixar Subíaco, Bento estabeleceu-se em Monte Cassino (próximo a Nápolis, um pouco mais distante de Roma) e Mauro o seguiu, tendo sido o primeiro superior e administrador do famoso mosteiro. Seu colega Fausto o descreve como “homem de grande virtude, modelo de obediência, humildade, caridade e austero consigo mesmo”.
No ano de 535, Bento foi solicitado a abrir um mosteiro na França e escolheu para esta missão pioneira o abade Mauro. O mosteiro, fundado por ele, de nome Glanfeuil, tornou-se célebre. Anos depois, uma aldeia formou-se ao seu redor e foi denominada São Mauro. A criação do Mosteiro de Glanfeuil foi o início da expansão dos mosteiros beneditinos por toda a Europa. Mauro faleceu no Mosteiro de Glanfeuil, no dia 15 de janeiro de 567. Em sua honra surgiram muitas igrejas por toda a Europa. Atribuía-se a ele muitos milagres.
Quando a congregação beneditina veio para a Capitania de São Thomé assumir um quinhão das terras então pertencentes aos herdeiros dos Sete Capitães, na Baixada já existiam fazendas de criadores de gado cavalar e vacum. Os beneditinos construíram um mosteiro (Mosteiro de São Bento) em Campo Limpo (hoje, distrito de Mussurepe) e fizeram espargir suas idéias pela planície no final do século XVII, após receberem, em doação, em 1648, numa escritura polêmica que passava as terras dos herdeiros dos Sete Capitães para o general Salvador Corrêa de Sá e Benevides, os jesuítas, os beneditinos e um tal capitão Pedro de Souza Pereira, amigo de Salvador Corrêa.
Os herdeiros dos capitães ficaram com 4,5 quinhão, de um total de 12 quinhões. A menor parte coube aos beneditinos. Porém, era uma enorme propriedade, compreendendo muitos quilômetros de terra. Terra que aumentava porque muitos colonizadores deixavam como legado para a congregação, parte de suas propriedades. Os beneditinos tinham terra nas localidades de Mulaco, Algodoeiro, Ciprião, Babosa, Bananeiras, Mussurepe, Taí, São Sebastião e São Bento. Depois, estenderam seus domínios às localidades de Retiro, Caboio, Olhos Dágua, São Martinho, Pitangueiras e Santo Amaro.
Ao redor do mosteiro surgiu um pequeno povoado e a localidade ficou conhecida (até hoje) como São Bento. Do mosteiro, os seguidores e devotos de Bento administravam as propriedades. Com o tempo, foram cedendo um lote de terra aqui, outro acolá, atendendo as necessidades das famílias que desejavam um pedaço de chão para residirem, cultivarem para o próprio alimento e criarem gado. No século XIX, o Mosteiro transferiu as propriedades para os posseiros e para os que desejavam comprar as terras. (NEVES: 9). Santo Amaro, a partir dos beneditinos, começou a fazer parte da crença do povo e entrou no folclore, sendo invocado contra doenças.
(Trecho do meu futuro livro sobre a Festa de Santo Amaro)
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