domingo, 31 de março de 2013

TEM MALUF NO RIO

Artigo do jornalista Aluysio Abreu publicado na página 4 (aqui) da edição deste domingo, 31/03/2013 na Folha da Manhã:



Artigo do domingo — “Maluf do Rio” pode fazer de Pezão seu “Haddad”?

“Para os experientes da política e alguns analistas de pesquisas, o deputado Garotinho é o Maluf do Rio. Tem um quinhão considerado dos votos do Estado, mas não passa disso. Conseguirá sempre ser um deputado bem votado e, dependendo das circunstâncias, até chegar a senador, mas fica por aí. Para os mesmos analistas e políticos, a grande virada no Rio na era Cabral/Paes deixou muito marcado no consciente coletivo da população quanto mal o populismo e a política da discórdia fizeram ao Estado. Para eles, ninguém representar melhor esse legado que os ‘Garotinho’”.
Publicado na coluna “Comentários”, na edição da Folha do último dia 8, o texto do Murillo Dieguez é inteligente e instigante, mesmo quando leva a conclusões, ou pelo menos, possibilidades diversas. Deixando de lado qualquer aplicabilidade na curva da Lapa do slogan “rouba, mas faz”, que em São Paulo foi cunhado para definir o modus operandi do ex-governador Ademar de Barros (1901/69) e depois ficaria visceralmente associado ao hoje deputado federal Paulo Maluf (PP), a verdade é que, com sua rejeição entre o eleitorado fluminense oscilando entre os 40%, por mais que também sejam altos seus índices de intenção de voto (23%, segundo pesquisa divulgada ontem em seu diário pessoal, onde a rejeição de quem manda é sempre ocultada), não há possibilidade matemática do deputado federal Anthony Matheus, o Garotinho (PR), ser vitorioso numa eleição majoritária em dois turnos, como, tudo indica, será o caso da sucessão do governador Sérgio Cabral (PMDB), em 2014.
Configura-se, então, o pensamento de Murillo? Por certo que sim. Agora, empurrando essa analogia por um caminho não trilhado pelo arguto colunista, e se o “Maluf do Rio” concluir que realmente não tem mais chance, pelo menos no próximo ano, de voltar a ocupar o Palácio Guanabara? Por mais que ele e seus “áulicos”, como bem definiu o ex-governador Leonel Brizola (1922/2004), bradem em contrário, afirmando inexistir outra possibilidade, não é novidade que uma das poucas coisas com as quais Anthony Matheus, o Garotinho, mantém contato com a realidade, é na análise de pesquisas. A bem da verdade, quem já o viu de perto fazendo isso, sabe se tratar de um virtuose na arte de interpretar os números que traduzem a vontade coletiva, bem como em encontrar as maneiras, qualquer uma, de interagir com ela.
Mais de um ano distante do pleito de 2014, a prefeita Rosinha (PR) hoje parece ser a melhor opção eleitoral do marido para conquistar o que ele arroga poder fazer por conta própria. É fato que ela carrega o bônus do esposo, sem levar seu ônus, num teflon difícil de entender e mais ainda de explicar, mas que lembra aquele ostentado pelo ex-presidente Lula e a atual, Dilma Rousseff, cujas porções de mal, aos olhos da maioria do povo, parecem ter escorrido junto com José Dirceu, “Lúcifer” quedado do céu da estrela petista às sombras do inferno dantesco do Mensalão.
Mas fato também é que Rosinha não quer tentar voltar a governar o Estado. “Ela nunca quis! Assim como não quis vir prefeita de Campos pela primeira vez, nem na segunda, mas acabou concorrendo e vencendo todas essas eleições”, lembrará o observador de boa memória. Ao que outro, sem perder as referências do passado, mas mirando com mais precisão o futuro, poderia responder que em nenhum desses pleitos, nem o majoritário de Campos em 2008, em cuja campanha Arnaldo Vianna (PDT) largou como favorito, trouxe a carga de dificuldade daquele que se desenha ao ano vindouro, em torno de três nomes: o senador Lindbergh Farias (PT), o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Anthony Matheus, o Garotinho, que traz no matrimônio sua melhor opção, ainda que mesmo ela não pudesse colher as favas contadas, ainda em primeiro turno, como aceitou sem correr nenhum risco real em 2002.
Voltando à indagação ainda sem resposta: e se o “Maluf do Rio” se convencer, ou, mais corretamente, for convencido pelos índices da sua rejeição nas pesquisas, de que, pelo menos por ora, não pode ambicionar ser nada mais do que o “Maluf do Rio”? Não seria Pezão, neste caso suposto, mas lógico, um “Fernando Haddad” à feição fluminense da última eleição paulistana?
Publicado hoje (31) na edição impressa da Folha da Manhã.

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