quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Lua de Waldir Carvalho


LUA CHEIA EM SÃO THOMÉ
Waldir Carvalho


Findou-se a tarde em companhia do sol.

que caiu cansado nos braços da serra do Itaóca. A

pálpebra da noite desce irresistivelmente sobre a

nossa cabeça. Tudo indica que o manto escuro que

nos envolve, impedirá até mesmo que haja a luz

das estrelas.

Da quietude da varanda, ouve-se o canto

das ondas lá do mar, o ambiente é de paz

em nossa volta. Há um pouco de tristeza sem motivo

a nos invadir o pensamento.

Mas, os instantes que se seguem, são prenúncio

de uma alegria incomum: somos, então, atraídos

para o horizonte na direção do nascente.

A iluminação indireta que se projeta do fundo

das águas, embeleza com requinte o prescênio

do palco, onde a natureza, em pouco irá

representar.

Não há no espaço nuvens privilegiadas a serem

banhadas de prata em primeiro lugar. Se o azul

do céu serve de prisma e é capaz de traduzir

o esplendor que não tarda.

Silêncio. O momento é místico e a cena,

sagrada. O mar, o vento, tudo se curva com

reverência ante o grande altar. Por trás do imenso

cálice que se transborda cá na areia, eleva-se

a grande hóstia para a comunhão das criaturas.

Nossa alma, nesse momento de contrição, se

faz em prece.

Não custa nada orar pelos homens que podem

promover a paz. Vale a pela convencê-los a

amar uns aos outros.

Provando que o amor é a única força capaz

de garantir a felicidade do mundo, a lua cheia

que segue a sua jornada por entre os astros

do firmamento, vai derramando, fraternamente,

sua luz bendita sobre justos e injustos,

sobre crentes e ateus,

sobre árabes e judeus,

na esperança, talvez, de que um dia a paz

seja, também, de todos — Universal.

(03/04/1970)

(Transcrito no livro "Só na Multidão", Fascículo nº 1 - edição artesanal da Academia Pedralva de Letras e Artes

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