LUA CHEIA EM SÃO THOMÉ
Waldir Carvalho
(Transcrito no livro "Só na Multidão", Fascículo nº 1 - edição artesanal da Academia Pedralva de Letras e Artes
Waldir Carvalho
Findou-se a tarde em companhia do sol.
que caiu cansado nos braços da serra do Itaóca. A
pálpebra da noite desce irresistivelmente sobre a
nossa cabeça. Tudo indica que o manto escuro que
nos envolve, impedirá até mesmo que haja a luz
das estrelas.
Da quietude da varanda, ouve-se o canto
das ondas lá do mar, o ambiente é de paz
em nossa volta. Há um pouco de tristeza sem motivo
a nos invadir o pensamento.
Mas, os instantes que se seguem, são prenúncio
de uma alegria incomum: somos, então, atraídos
para o horizonte na direção do nascente.
A iluminação indireta que se projeta do fundo
das águas, embeleza com requinte o prescênio
do palco, onde a natureza, em pouco irá
representar.
Não há no espaço nuvens privilegiadas a serem
banhadas de prata em primeiro lugar. Se o azul
do céu serve de prisma e é capaz de traduzir
o esplendor que não tarda.
Silêncio. O momento é místico e a cena,
sagrada. O mar, o vento, tudo se curva com
reverência ante o grande altar. Por trás do imenso
cálice que se transborda cá na areia, eleva-se
a grande hóstia para a comunhão das criaturas.
Nossa alma, nesse momento de contrição, se
faz em prece.
Não custa nada orar pelos homens que podem
promover a paz. Vale a pela convencê-los a
amar uns aos outros.
Provando que o amor é a única força capaz
de garantir a felicidade do mundo, a lua cheia
que segue a sua jornada por entre os astros
do firmamento, vai derramando, fraternamente,
sua luz bendita sobre justos e injustos,
sobre crentes e ateus,
sobre árabes e judeus,
na esperança, talvez, de que um dia a paz
seja, também, de todos — Universal.
(03/04/1970)
(Transcrito no livro "Só na Multidão", Fascículo nº 1 - edição artesanal da Academia Pedralva de Letras e Artes
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