quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Abandono II


Eu penso que administrar uma cidade é como ser um pouco dona de casa. É preciso ter vocação, disposição física para manter tudo limpo e em ordem, disciplina e voz de comando. Eu não tenho capacidade para isso, mas não abro mão do direito/dever de cobrar de quem se habilita.
Dirigir uma cidade como Campos, com seus quase 500 mil habitantes e problemas seculares, não é tarefa fácil. E quando o prefeito tem a índole do nosso atual ocupante do cargo o resultado é visível aos nossos olhos e enseja movimentos como o segundo “Dia do Abandono”.
Nada pessoal contra a pessoa simpática, agradável, atenciosa e bonachona do senhor Alexandre Mocaiber, mas o gestor, Alexandre Mocaiber é de uma inaptidão que fulmina a carreira de qualquer administrador, seja de uma carrocinha de pipoca ou carrinho de vender água de coco. É como uma dona de casa relapsa, que vê acumular poeira nos cantos enquanto passa o dia na casa da vizinha desfolhando a vida alheia.
Pense bem: a cidade está há mais de um ano com ruas esburacadas em todos os bairros e o prefeito e seus assessores — só no primeiro escalão, nomeados com DAS-1 e salário em torno de R$ 4 mil/mês são 47 — precisam lançar mão de um projeto novo apenas para fazer o mínimo que se exige deles: manutenção das ruas da cidade.
Os problemas são inúmeros e não se resumem às ruas estreitas, mal iluminadas e nem ao trânsito caótico que, com uma medida aqui outra acolá, até que vai melhorando. Agora então, quando todas as pontes estiverem em condições de trânsito há perspectiva de alívio, em pelo menos alguns bairros. Mas há urgência também de regulamentação nos transportes coletivos e do uso do espaço público. O que constata-se em Campos, e com tristeza, é uma visível renúncia das autoridades municipais ao seu dever de fiscalizar o cumprimento das leis, por mais simples que sejam.
As faixas de pedestres nos cruzamentos de ruas são pintados à cuspe e desaparecem à primeira chuva. Placas de “proibido estacionar” são ignoradas como se fossem grafadas em ideogramas orientais, e as calçadas são ocupadas por agências de automóveis, que fazem do que seria o “passeio público” o seu salão de exposição dos veículos à venda.
Tudo sob complacência dos agentes públicos.

Será que ainda existe um Código de Posturas? Se há, tem fiscais suficientes para zelar pelo seu cumprimento? Em caso afirmativo, há quem lhes cobre o exercício da função para a qual são pagos?
Há, porém, outros tipos mais graves de abandono que, penso eu, são as fontes de todas as mazelas subseqüentes: o abandono da ética e o enterro da transparência.
No ano de 2007, o atual governo manipulou um orçamento de mais ou menos R$ 1,5 bilhão e não se tem idéia de onde gastou, a quem pagou, quanto pagou e por quais serviços. Há no eficiente portal da Secretaria de Comunicação Social um link para “contas públicas” e que chegou a ser alimentado com dados de dois anos do governo Arnaldo Vianna, mas que, desde 2006 está fora do ar sem nenhuma informação, nem explicação.
Só de royalties do petróleo, ingressam nos cofres municipais algo em torno de R$ 3 milhões/dia e há tecnologia disponível para que todos tenham acesso às despesas da mesma forma como conhecemos as receitas, aliás, não por iniciativa da Prefeitura e sim do Governo Federal.
O resultado é a desfaçatez. Diante de uma oposição preguiçosa, incompetente e uma mídia política e finaneiramente comprometida, os dirigentes municipais alugam trios elétricos por R$ 1,5 milhão e geradores de energia por mais de R$ 3 milhões. E mais: contratam uma empresa para cuidar da limpeza da cidade por 10 anos ao custo de meio bilhão de reais, sob o silêncio abjeto da Câmara Municipal, mídia, partidos políticos e da sociedade como um todo.
Será por isso é que temos um (des) governo como esse?

9 comentários:

Vitor Menezes disse...

Irretocável! Parabéns, Ricardo. Lavou minha alma de leitor e de campista.

Anônimo disse...

Corrputus in extremis, Ronaldo. Corruptus in extremis.
Parabens

Anônimo disse...

Desculpem-me, galera, não pude novamente ir para o Campo, só chegarei aí fim de semana.
O Meu Dia do Abandono será atrasado...

xacal disse...

Don Ricardo...

Não há o que comentar...disse tudo, parabéns...há vida inteligente na planície...há esperança...

A TRolha esteve "fora do ar"...Ferida, porém viva...

Aí estamos...

Xacal

xacal disse...

Don Ricardo...

Não há o que comentar...disse tudo, parabéns...há vida inteligente na planície...há esperança...

A TRolha esteve "fora do ar"...Ferida, porém viva...

Aí estamos...

Xacal

Ricardo André Vasconcelos disse...

Valeu Xacal... A trolha não pode ficar "fora do ar"
Um abraço

Álvaro Marcos Teles disse...

Ricardinho, seus óculos e seus dedos fizeram uma espécie de tomografia computadorizada de Campos. Como bem escreveu Vitor Menezes, irretocável.

Nilza disse...

Sensacional! A vontade era repetir...irretocável!
Me permitam destacar o que considero antológico neste texto que analisa o atual Governo de Campos: "Nada pessoal contra a pessoa simpática, agradável, atenciosa e bonachona do senhor Alexandre Mocaiber, mas o gestor, Alexandre Mocaiber é de uma inaptidão que fulmina a carreira de qualquer administrador, seja de uma carrocinha de pipoca ou carrinho de vender água de coco. É como uma dona de casa relapsa, que vê acumular poeira nos cantos enquanto passa o dia na casa da vizinha desfolhando a vida alheia".
Depois disso tenho certeza que o Senhor Prefeito e alguns de seus "des"assessores irão se articular para sairem de mansinho desta Casa em desordem para dar lugar a uma administração a altura da cidade de Campos.

Gervásio Cordeiro NETO disse...

Parabéns Ricardo!!
Falou tudo que sentimos!!! Infelizmente o que vemos é uma boa parte da imprensa comprometida com os 2 grupos já conhecidos e uma população totalmente desamparada!! E lamentavelmente temo que a situação não melhore!! Ainda bem que temos essa movimentação de blogs, com pessoas sérias e realmente preocupadas com nossa Campos!! Grande abraço