Quem conhece o prefeito em exercício, Roberto Henriques, sabe de sua fixação por personagens históricos, notamente os naturais do município de Campos e os das Minas Gerais, terra pela qual tem ligações políticas e afetivas consideráveis. Não raro recita de memória célebres frases de JK, Tancredo, Benta Pereira, Adão Pereira Nunes e Barcelos Martins. Por isso, espera-se dele um comportamento de estadista durante sua interinidade, que pode durar seis meses ou um pouco mais, até o final do mandato do prefeito afastado pela Justiça, em dezembro.
A expectativa de uma interinidade mais longa projeta o prefeito interino como o candidato do PMDB às eleições para a prefeitura, em outubro. E aí começa a porca a torcer o rabo. Candidato representante do grupo político antagônico ao que foi deposto por decreto judicial, como se comportaria Roberto Henriques? Prevaleceria o festejado estadista-saneador da administração municipal ou o candidato que sucumbiria às concessões deploráveis e conhecidas para garantir a eleição, como fizeram os antecessores?
Não tem Roberto Henriques, em nome de um patrimônio político de que tanto se orgulha, o direito de substituir uma curriola por outra. Não pode manter com o Poder Legislativo e nem com parte significativa da mídia as mesmas relações suspeitas - promíscuas até - como o governo temporariamente afastado. Vai enfrentar a grave questão da contratação irregular de servidores, mesmo sabendo o prejuízo eleitoral que isso significa? Afinal, um dos motivos que levou a Justiça Eleitoral a afastar Mocaiber foi justamente a contratração de, segundo um delegado da PF, 20 mil pessoas, o que, pelas contas do mesmo delegado, significaria cerca de 60 mil votos.
O ideal, sim política se faz com ideal, é que o prefeito interino não seja candidato e nem tenha afilhado candidato. E muito menos se deixe manietar pelo pessoal de Garotinho que, há pelo menos oito anos tem sede de voltar a mandar na Prefeitura de Campos.
Roberto Henriques não pode ser a marionete salvadora do populismo falso moralista do garotismo em decadência. Já deu sinais de independência ao citar, durante coletiva nesta terça-feira, que gostaria de contar com políticos-técnicos acima de qualquer suspeita, como os professores Roberto Moraes, Luciano D´Ângelo e José Luiz Vianna da Cruz, em sua equipe. Bom sinal, mas apenas um sinal...
Não sendo candidato e sem a obrigação de eleger alguém para continuar a sua "obra", o prefeito interino terá nove meses pela frente para iniciar um trabalho de organização da prefeitura, corrigindo os desvios e criando rotinas a serem seguidas pelas administrações seguintes. Mas isso não é possível sem consultoria especializada em caos e rigorosa auditoria externa para passar a limpo o que essa gente andou fazendo com o dinheiro público nos últimos anos.
Oxalá tenha juízo o prefeito em exercício. Juízo e memória para cultuar e preservar o próprio passado.
Um comentário:
Caro Ricardo,
Sua torcida pelo sucesso do RH é louvável, e até justa...
Pena que eu tenha quase certeza que você sofrerá uma estrondosa decepção...
Não carregue demais na expectativa...
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