A entrevista da presidente da Fundação Cultural, Patrícia Cordeiro, publicada na edição de hoje de O Diário (versão on line aqui) não deixa dúvida sobre o motivo pelo qual ela e seus patrões não querem debater a Cultura. Patrícia mistura arrogância com ignorância e, sem pudor, diz. em certo trecho, o que pensa da democracia:
"Eu não estou aqui para me defender, não preciso disso e nem o governo"
Mais:
"A audiência, da forma como foi concebida, descobriu-se logo, tinha viés
nitidamente político por se tratar de um debate que interessava às
mesmas seis pessoas que têm criticado sistematicamente o governo na área
da cultura. Não me interessa polemizar neste sentido com pessoas que
têm ocupado sistematicamente espaço em certa mídia para criticar a
política cultural do atual governo."
E, como o debate é realmente impossível, já mandou fazer um vídeo (logicamente por empresa contratada e de total confiança) para exibir na Câmara Municipal, ou seja em vez do debate, a propaganda.
"...estou preparando um material em vídeo, com imagens e textos, que ainda
não está concluído, para apresentar à sociedade, através da Câmara, que é
a instância de representação legítima do povo. Não preciso ser pautada
por eles..."
Enquanto isso, não dedicou uma palavra para justificar (porque explicação não tem), por exemplo:
- a contratação de R$ 2 milhões em shows no verão 2013
- o pagamento à Working Empreendimentos de R$ 501 mil para aluguel de palcos (reveja aqui), sendo R$ 347 mil só para a Festa de São Salvador (aqui).
- o show de Maria Bethânia por R$ 233.750,00, enquanto a arrecadação da bilhetaria do Trianon não passou dos R$ 50 mil (aqui).
- Por que pagou R$ 100 mil de cachê para apresentação de alguns passistas da Vila Izabel enquanto cada Escola de Samba do Grupo Especial só recebeu R$ 80 mil para colocar a agremiação inteira na avenida (aqui)
Abaixo, na íntegra, a bela contribuição do governo Rosinha à Cultura, aos princípios da administração pública e à democracia:
Desafios da cultura em Campos
Publicado em 28/09/2013
Phillipe Moacyr
Paulo Renato Pinto Porto
Se a democracia é o principio filosófico que consagra e expressa a vontade da maioria, a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Patrícia Cordeiro, se acha em posição confortável ao enumerar o conjunto de ações na área da Cultura em Campos, além do reconhecimento da maioria dos agentes culturais. Diante dos ataques de uma minoria que a acusa de preconceituosa, além de suspeita, por jamais ter encaminhado projetos à Fundação ou acenos em direção a propostas de entendimento, Patrícia argumenta que a política cultural do município tem avançado inclusive além do programa de governo apresentado pela prefeita Rosinha Garotinho (PR) para o setor. Nesta entrevista, ela rompe o silêncio ao argumentar que não falou antes porque seu trabalho não é pautado pelo que pensa uma minoria que se autodenomina a elite do pensamento cultural de Campos. "O que me deixa tranquila, mais estimulada a vencer novos desafios é que o programa de governo da prefeita para a área cultural tem sido implementado, rigorosamente. E nós temos buscado ir além em nossas ações, à medida que surjam ideias ou propostas interessantes, o que não tem ocorrido em relação a esse grupo de pessoas que busca apenas ataques sistemáticos ao governo. Sugiro que conversem com o conjunto dos agentes culturais que atuam em Campos sobre a nossa política cultural... À sociedade, devemos satisfação, não a um pequeno grupo que só tem por finalidade desgastar o governo, sendo que algumas delas se envolveram em desmandos da área cultural. Não vou me pautar por eles ou por quem usa a imprensa para me atacar ou ao próprio governo", disparou.
O Diário (OD) - Como você se defende das críticas?
Patrícia Cordeiro (PC) - Eu não estou aqui para me defender, não preciso disso e nem o governo. Temos muitas ações e pouco tempo para nos preocuparmos. A resposta da população tem sido muito maior do que as provocações. Assumi esta responsabilidade e tenho plena consciência do que temos feito. A política cultural de Campos contempla um amplo espectro de produção em diferentes e múltiplas áreas.
OD - Você observa algum ranço elitista ou preconceituoso quando se trata dessas críticas?
PC - Muito, extremamente preconceituoso e tão estranho que a gente não espera de pessoas que se dizem modernas ou contemporâneas. As críticas partem de um grupo de pessoas inseridas num segmento localizado que nunca encaminharam propostas, que representa uma minoria. Até hoje nunca recebi um aceno qualquer para um entendimento que levasse ao encaminhamento de propostas na área cultural. Só recebo críticas que não são destinadas a mim, mas basicamente para atingir sistematicamente o governo.
OD - Como avalia a tal audiência pública que seria realizada na Câmara?
PC - A audiência, da forma como foi concebida, descobriu-se logo, tinha viés nitidamente político por se tratar de um debate que interessava às mesmas seis pessoas que têm criticado sistematicamente o governo na área da cultura. Não me interessa polemizar neste sentido com pessoas que têm ocupado sistematicamente espaço em certa mídia para criticar a política cultural do atual governo. A sensação é a de que esse mesmo grupo e essa mídia se comportam como se fossem um partido político.
OD - A sua postura não significa que esteja fugindo do debate?
PC - Pelo contrário, estou preparando um material em vídeo, com imagens e textos, que ainda não está concluído, para apresentar à sociedade, através da Câmara, que é a instância de representação legítima do povo. Não preciso ser pautada por eles... Quando ficar pronto (o vídeo), o dia que o presidente da Câmara me convidar, estarei pronta.
OD - Neste vídeo, se busca então mostrar a abrangência do trabalho na cultura, em todo o município e em seus diferentes polos e realidades...
PC - Sim, será mostrado todo um trabalho que estamos realizando em todas as vertentes. O que essas pessoas não entendem ou fingem não entender é que uma política cultural tem que contemplar as diferentes áreas. Será que eles sabem quantas pessoas estão sendo alcançadas? Nós temos produzido uma política cultural moderna e humanizada, sim. Uma política que busca despertar a sensibilidade das pessoas pela arte e pela cultura para buscarmos um mundo melhor. Sobretudo para as pessoas que mais precisam ter acesso a essas manifestações e a noção de nossa real importância como povo.
OD - Como tem buscado a formação de novas plateias?
PC - A Bienal hoje é um evento consolidado, quando homenageamos José Candido de Carvalho. E buscamos atrair o gosto pela leitura nos estudantes. O Departamento Literatura trabalha o desenvolvimento de conhecimento das crianças e professores da rede na temática de José Cândido. Hoje, seis crianças são treinadas para contar histórias de José Cândido, e a quantidade de público só tem aumentado. Nas artes cênicas, o curso livre de teatro já conta com alunos que montam espetáculos e já garantem uma plateia nova. Eles escolhem roteiro, figurino, cenário e direção, orientados por Neuzinha da Hora e a Maria Helena Gomes. Temos o plano de trabalho para o desenvolvimento Orquestra Municipal... Tanto a escola de teatro como a orquestra, pelo fato de serem grupos de jovens e adolescentes, já proporcionam a formação de novas plateias. Não houve uma apresentação da Orquestra que o teatro não estivesse totalmente cheio.
OD - A preservação do Patrimônio tem agora uma figura do porte do professor Orávio de Campos... Como avalia essa mudança?
PC - As obras do Centro Histórico são outras ações importantes com a preservação dos nossos casarões. Nesta área, como você disse, temos uma pessoa do peso de Orávio de Campos para implementar uma política sólida na questão do Patrimônio Histórico. São espaços de referência histórica que estavam se perdendo - como é o caso do Museu, que é um desafio nosso, mas já muito gratificante. A cada dia de visitação, quando você conversa com as pessoas, a gente sai de lá com o ego inflado do orgulho de ter nascido nesta cidade... Saímos de lá mais campistas, sem dúvida alguma.
OD - O que se ouve desses setores minoritários é que o governo não tem projetos de cultura, mas de shows, entretenimento...
PC - Uma mentira absurda. É óbvio que precisamos contemplar as pessoas que veem na arte um complemento, como um entretenimento. Mas há ações como um todo no município, com a integração dos distritos pela apresentação de shows onde valorizamos a "prata da casa" da forma mais ampla. Nas artes plásticas, o Trianon tem sua diretoria que ainda há pouco tempo realizou uma mostra na qual vários artistas foram premiados, além de uma agenda que contempla outras exposições. Outros três festivais literários estão em andamento, inclusive este ano superou todas as expectativas, com 501 inscrições de quase todos os estados. Tivemos uma semana em homenagem ao centenário de Vinicius (de Moraes), como faremos uma grandiosa homenagem ao centenário de Wilson Batista, no Dia Nacional da Cultural, em parceria com a Câmara, além de vários outros eventos. Há também o festival de teatro infantil, e muita coisa tem sido feita.
OD - Muito além dos shows e entretenimento...
PC - Política cultural feita com seriedade, com gestores na parte técnica e administrativa, mas dentro de uma política que comporta múltiplas manifestações na qual há pessoas que têm autonomia em suas áreas e estreita vinculação com as artes e a cultura, como é o caso de Maria Helena Gomes, Orávio de Campos Soares, João Vicente Alvarenga, que chegou agora... Então, são pessoas de diferentes áreas da cultura que têm uma folha de serviços e uma trajetória na área cultural de Campos. Agora, é fundamental que haja pessoas que atuem também na área técnica e administrativa, como tenho minha equipe, que é excelente e composta de pessoas responsáveis. Até porque é conveniente lembrar que a Casa que presido foi palco de desmandos que trouxeram para Campos e os campistas sérios constrangimentos.
OD - Que, inclusive, não levaram Campos naquele momento às páginas dos segundos cadernos, mas às páginas policiais...
PC - O que essas pessoas deviam fazer é entrevistar empresas e agentes culturais que hoje trabalham com a Prefeitura de Campos que conheciam a realidade anterior e são testemunhas da diferença entre este governo e as realidades anteriores, de outros governos.
OD - Voltando à questão dos shows e eventos, não fosse essa programação que já está consolidada, porque caiu no gosto popular, Farol não é só eventos, mas esportes, turismo...
PC - Da forma como a gente concebeu a programação do Farol, a política ali é bem abrangente, porque envolve a praia no seu vigor econômico ou no turismo, uma política de integração entre as secretarias de Limpeza e Serviços Públicos, de Desenvolvimento e Turismo, de Agricultura, de Esportes, que fazem o conjunto da programação tornar o Farol essa realidade de hoje.
OD - Você acredita que muitas dessas pessoas falam sem conhecer a realidade do Farol?
PC - Quando dizem que no Farol só tem shows, não tenho dúvida que essas pessoas não conhecem o Farol. Não conhecem o projeto "Aquele Braço" , o encontro de feras da MPB com artistas locais. Não ouvem as pessoas que se sentem gratificadas, nem sabem o que significam os eventos no Farol para toda Baixada e a população de Campos em sua grande maioria... Aliado aos shows, nós temos a Tenda Cultural, com eventos diários para as crianças, atividades circenses, oficinas de arte e ofício, de contação de histórias. Temos programação para os idosos e, o mais importante: não há um só evento que não supere expectativa de publico. E isso é imensamente importante para nós. A programação do Farol envolve educação, desenvolvimento econômico, ações que têm uma abrangência muito maior do que o olhar maldoso de quem fica lá de Búzios querendo dar opinião aqui...
OD - A propósito, o carnaval de Campos passa por uma transformação em termos e organização, uma ruptura com um passado, quando pessoas recebiam subvenções sem prestar contas... Eles têm uma grande responsabilidade em produzir um espetáculo à altura do Cepop, que é uma obra conceitual, moderna e abrangente.
PC - O Cepop é hoje um espaço multiuso, conhecido nacionalmente, onde alguns artistas já requisitam como cenário para gravação de DVDs, um espaço privilegiado, que marca por sua grandiosidade, sua arquitetura... Temos realizado o Festival do Folclore, que tirou o boi pintadinho de um gueto no carnaval. Hoje é uma manifestação cultural que ocupa o seu espaço dentro de processo de discussão que está aberto a outras manifestações, como o jongo e a mana chica... Além de tudo, o Cepop contempla outras atividades no projeto, como as festas cívicas e populares, as outras manifestações, além de oficinas de carnaval escola de artes, cenários e figurinos. Neste desafio contamos com a presença do Milton Cunha, uma figura extraordinária, conhecida nacionalmente. O que deixa a gente triste é que nosso trabalho tem sido mais reconhecido fora de Campos, mais do que entre certas cabeças daqui...
OD - E o carnaval?
PC - Antes, não era uma pessoa de representatividade no carnaval, mas a partir do momento em que assumi essa minha responsabilidade na fundação, foi de forma tamanha a profundidade do meu envolvimento. Não preciso de corrente nenhuma ou de bravata para explicar esse meu envolvimento, em tudo que faço é assim, não foi diferente. Nos governos passados, faltaram gestão e sensibilidade com o carnaval. Hoje o espetáculo tem tudo para deslanchar com outro nível de organização, com um novo olhar para essa expressão do nosso povo, onde estão as pessoas mais criativas. Tenho aprendido muito com eles, com as críticas, a paixão, o poder de superação e o envolvimento das comunidades. O traço de negritude dessa gente, essas potencialidades, nos leva a crer que o carnaval é uma atividade da maior importância.
Uma entrevista deveras chapa-branca, como aliás, não se poderia esperar algo diferente. Nada, além do óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues (ops! Me esqueci ser ele um autor maldito para essa administração), então, caro Ricardo, nada de novo sob o sol.
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