05/11/2013
às 6:47Não peço licença nem peço desculpas! E não vou parar
Escrevi nesta segunda um post em que anunciava, em tom obviamente irônico, que iria parar de escrever e, assim, fazer um bem ao Brasil: “Vou
parar de escrever para que os mansos e doces continuem mansos e doces.
Não é bom que eles se tornem ferozes porque, afinal de contas, eu tenho
um blog hospedado na VEJA e uma coluna na Folha. Vou parar de escrever
para não mais açular a paixão sanguinolenta dos cordeiros.”
Vocês
podem não acreditar, mas aconteceu: os seres trevosos começaram a
comemorar. Por algum tempo, levaram a sério. Realmente acharam que eu
fosse me intimidar com o espetáculo de truculência, de intolerância e de
baixaria a que se entregaram os sites financiados por gestões petistas e
por estatais. Mas não só eles: Miriam Leitão, que é considerada por
muitos a principal colunista de economia do país, decidiu usar a sua
coluna no Globo para comentar a contratação de um colunista feita por um
outro jornal. Deve ser inédito na história. Tento de novo: um dos nomes
mais destacados do maior grupo de comunicação do país se achou no
direito de criticar uma escolha feita por um veículo de uma outra
empresa.
Sem que ela tenha me pedido nada — escrevo o que quero —, apontei aqui em
vários textos as muitas vezes em que Miriam foi vítima de ataques
boçais, desonestos, promovidos por gente paga para caluniar, difamar,
distorcer, injuriar, sem atentar para quaisquer limites do bom senso, do
bom gosto, nada… Ainda que eu discordasse dela em muitos aspectos,
sempre considerei o óbvio: tem o direito de escrever o que pensa. Não,
senhores! Não estou fazendo muxoxos e chororôs, não! Ela não precisaria
ter me devolvido na mesma moeda. Não faço trocas. Quem me conhece sabe
disso. Respondendo a alguns leitores, informo: não estou minimamente
arrependido do que escrevi. Repetidas as circunstâncias, eu a defenderia
de novo.
O absurdo,
nesse caso, é de outra natureza. Mesmo alvo dos ataques mais indecentes
— a exemplo do que também já fizeram comigo, até fotografias suas foram
adulteradas para lhe conferir um aspecto monstruoso —, Miriam nunca
respondeu. Ela só decidiu fazê-lo agora, e se nota que os seus
detratores à esquerda não são os alvos principais de sua fúria. Não!
Escreveu aquele artigo com o fito de me atacar. O alvo era eu.
Ao
fazê-lo, arrancou elogios dos furiosos que sempre a atacaram — e talvez
isso atenda a alguma necessidade sua, que remete à ideologia, sim, mas
envereda também para o terreno da psicologia. Miriam foi militante de
esquerda — também fui. Tornou-se uma jornalista de sucesso. Entusiasta,
por bons motivos, do Plano Real, passou a ser identificada pelo petismo,
especialmente a versão petralha — sim, Miriam, petralha — como
“tucana”. Dadas as muitas deformações do debate no Brasil, foi
transformada numa espécie de ícone da, santo Deus!, “mídia neoliberal”,
que nunca existiu. Tudo estupidez. Tudo bobagem. Tudo boçalidade.
Miriam, no
entanto, não é “de direita”. A classificação deve incomodá-la. Em
relação a alguns temas, dada a geografia ideológica um tanto caótica no
Brasil, está à esquerda de muitos petistas. E, claro!, pesa o passado;
pesa a memória afetiva; pesam as afinidades pregressas. Ao emprestar o
seu peso ao linchamento de Reinado promovido pela subimprensa petista,
Miriam Leitão tenta, na verdade, enviar um sinal à esgotosfera
financiada. Ela, que nunca reagiu mesmo às maiores ignomínias, lançou-se
contra mim com a fúria dos justos. Segundo diz, “rosno” e “ladro”.
Que coisa!
Os outros, vá lá, estão, ainda que de maneira suja, ainda que
financiados, “trabalhando”. Fazem o que fazem por dinheiro. Alguns dos
que me atacam com mais virulência me cobriam de elogios até anteontem.
Como sabem que nunca me deixei impressionar pela lisonja fácil — nem a
graça de um simples cafezinho lhes dei —, também não me intimidam os
ataques os mais grotescos. Mas e Miriam? Em certo sentido, o seu ataque,
que é feito de graça — os outros recebem para isso —, é mais brutal.
Nesse caso, o que ela não suporta mesmo é a divergência; o que ela não
aceita é que possa haver um pensamento com o qual não concorda.
Disse que
“rosnei” para ela. É mentira! O link está acima. Eu apenas discordei
dela em uns dois ou três assuntos, especialmente Código Florestal e
cotas para cor de pele (o termo “raciais” é impróprio; negro e branco
não são raças) nas universidades.
Falácias
Miriam Leitão dá curso à falácia grotesca, repetida pelos áulicos a soldo, de que a imprensa estaria adernando à direita. No noticiário, desde sempre, isso é escandalosamente falso. No colunismo, façam vocês mesmos o levantamento: é mais falso ainda. Listem todos os colunistas dos grandes veículos de comunicação — os nomes estão disponíveis nas páginas eletrônicas. Consideradas todas as áreas, devem passar de duas centenas. Vejam ali quantos poderão ser chamados NÃO DE DIREITISTAS, mas, vá lá, de “liberais”. Não vou eu ficar aqui a categorizar pessoas, mas não consigo chegar a dez.
Miriam Leitão dá curso à falácia grotesca, repetida pelos áulicos a soldo, de que a imprensa estaria adernando à direita. No noticiário, desde sempre, isso é escandalosamente falso. No colunismo, façam vocês mesmos o levantamento: é mais falso ainda. Listem todos os colunistas dos grandes veículos de comunicação — os nomes estão disponíveis nas páginas eletrônicas. Consideradas todas as áreas, devem passar de duas centenas. Vejam ali quantos poderão ser chamados NÃO DE DIREITISTAS, mas, vá lá, de “liberais”. Não vou eu ficar aqui a categorizar pessoas, mas não consigo chegar a dez.
Estamos,
isto sim, é diante de um espetáculo de intolerância como há muito tempo
não se via. Afinal de contas, o que há de tão errado com as opiniões de
Reinaldo Azevedo? Quais delas são incompatíveis com o estado democrático
e de direito? Quais delas violam direitos fundamentais do homem? Quais
delas agridem os fundamentos da civilidade e da civilização? Por que não
fazem o elenco das minhas opiniões inaceitáveis?
Desonestos!
Truculentos! Vigaristas! É o que são. Sempre que divirjo de um
jornalista, de um ministro do Supremo (a exemplo de Luís Roberto
Barroso, no sábado), de algum especialista, reproduzo seu texto ou fala
em vermelho, sem omitir nada, e contesto em azul. Ao fazê-lo, exponho-me
também. JAMAIS RECORRO AO EXPEDIENTE CANALHA DE EU MESMO SINTETIZAR, A
MEU GOSTO, A FALA DO OUTRO. Não me dou essa facilidade. Fiz isso,
diga-se, com o artigo de Miriam.
Não
preciso esconder ou distorcer o que o outro diz ou pensa para facilitar a
minha resposta. Ao me atacar sem dizer o que há de errado no meu
pensamento; ao engrossar uma corrente de difamação sem contestar
opiniões que eu tenha emitido; ao escolher o caminho do simples
achincalhe, DONA MIRIAM LEITÃO SE IGUALA ÀQUELES QUE A DIFAMAM. Então
por que eu? Por que comigo? De algum modo, devo ser aquele que a devolve
a seu nicho ideológico original, do qual emocionalmente ela ainda não
se distanciou.
Já
respondi, sim, de maneira inadequada a ataques covardes de que fui
vítima. Com o tempo, aprendi que muitos de seus autores buscam
notoriedade; querem é pegar uma casquinha na polêmica. Citar meu nome,
como é sabido, rende visitas. Agora mesmo, há uma legião de autores de
si mesmos, de blogueiros sem leitores, de gente que não deve ser lida
nem pelos respectivos cônjuges fazendo o diabo para ter seu nome
mencionado aqui. Já cheguei a cair nessa cilada. Não caio mais.
Muitos assistem ao linchamento em silêncio. Outros se divertem: “Vamos ver se esse cara aprende…”. Não aprendo, não! Já lhes falei a respeito aqui. Cabe mencionar mais uma vez.
Há um
textinho famoso sobre o nazismo, que merece ser lembrado. Nove entre dez
citadores o atribuem a autor indevido: Maiakovski, Bertolt Brecht ou o
brasileiro Eduardo Alves da Costa (que escreveu, com efeito, coisa bem
parecida):
“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”
“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.”
Seu
autor é o teólogo protestante alemão Martin Niemöller (1892-1984). Ele
teve uma trajetória curiosa. Chegou a flertar com o nazismo nos
primeiros tempos. Quando, vamos dizer, já havia ficado claro quem era
Hitler e o que queria, ainda ambicionou incutir-lhe um tanto de
sensatez. Até que percebeu do que se tratava e migrou para a oposição
aberta. Foi processado em 1938 e enviado para o campo de concentração de
Dachau, onde permaneceu até o fim da guerra. Correto estava o Niemöller
do texto acima, não o que sonhou com as mãos estendidas para o ditador
facinoroso.
Encerro
Não vou parar, não! Vou continuar a escrever o que penso aqui e na Folha enquanto estiver aqui e na Folha. Se um dia não estiver mais, será onde der: na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé… Eu entrei numa organização clandestina com 15 anos. Era contra o governo. E nunca mais me tornei governista — e isso inclui os oito anos de FHC.
Não vou parar, não! Vou continuar a escrever o que penso aqui e na Folha enquanto estiver aqui e na Folha. Se um dia não estiver mais, será onde der: na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé… Eu entrei numa organização clandestina com 15 anos. Era contra o governo. E nunca mais me tornei governista — e isso inclui os oito anos de FHC.
Noto que
sou alvo da fúria sanguinolenta dos que, ao contrário de mim, sempre são
governo — alguns deles (nesse particular, não é o caso de Miriam) são
governistas desde a ditadura militar.
Não me intimida o silêncio dos covardes.
Não me intimida a gritaria dos covardes.
Não peço licença, não peço desculpas e não paro.
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