domingo, 14 de abril de 2013

TRAIÇÕES E CONVENIÊNCIAS



         O temido coronel da política baiana Antônio Carlos Magalhães, de tão experimentado na arte de trair e ser traído, achava a traição tão natural que sentenciava: “o único político, no Brasil, que não traiu seu antecessor foi Tomé de Souza, primeiro governador-geral do Brasil”. Richelieu (1585-1642), o cardeal Frances que mais poder teve na Europa absolutista, foi mais sintético: “traição é apenas uma questão de data”. Todos traem, resta saber quando.
      Essa introdução meio metido à besta foi só para tentar dar um certo verniz à arenga paroquial envolvendo o nosso candidato a ACM e um pupilo rebelde: Garotinho e Arnaldo Vianna. Eles  disputam pela mídia quem teria dado o primeiro passo para uma eventual reaproximação política. Um atribui ao outro a iniciativa, que ambos desmentem e até dizem desconhecer  o cabo eleitoral  que estaria tentando servir de cupido.
      Ao jornalista Aluysio Abreu, do Blog Opiniões (aqui), Arnaldo nega a iniciativa, mas aceitaria reatar com o ex-padrinho político (de quem foi secretário de Saúde e vice-prefeito), desde que Garotinho pedisse desculpas a ele e a sua mãe, e que esta  diga que aceitou. Infeliz declaração. Dona Amélia França Viana, respeitada professora antes mesmo de o filho doutor fazer vida na política, faleceu há alguns anos sem ver apurada a denúncia que Garotinho fazia (e ainda faz) de que Arnaldo teria depositado, em nome da mãe, alguns milhões de dólares numa conta em paraíso fiscal sem a devida declaração às autoridades fazendárias.
     Ontem Garotinho usou a rádio Diario FM para negar que tenha dado qualquer passo para se reaproximar de Arnaldo (estão rompidos desde 2002), e reiterou a denúncia de que o ex-prefeito, que o substituiu em 1997 e que ajudou a reeleger em 2000, está sendo investigado por ter algo em torno de R$ 50 milhões de dólares no exterior. Disse também que  da “quadrilha” fazem parte ainda outras pessoas, como o também ex-prefeito Alexandre Mocaiber.
      Eis aí a traição às avessas. Da mesma forma como é capaz de romper com todos os aliados que ajuda a eleger (a única exceção ainda é Rosinha), Garotinho transforma ex-rivais em amigos de infância, como fez com Paulo Feijó, entre outros e agora, surpreendentemente com Mocaiber. Sim, exatamente ele. Em público, como fez na rádio ontem, Garotinho continua evocando o avião preto da Polícia Federal como símbolo da corrupção no governo Mocaiber, mas em particular, enche a boca para contar que ele, Garotinho, está ajudando a  custear as despesas advocatícias para evitar a prisão de Mocaiber. A história, com riqueza de detalhes, incluindo reverentes agradecimentos familiares, foi contada para platéias diferentes.
       Traído pelos “postes” que elegeu e traidor dos partidos que o abrigou, Garotinho trai de novo quando atua ao mesmo tempo como defensor da moralidade denunciando gente como Mocaiber ao mesmo tempo em que provê, por baixo dos panos, meios para que o mesmo Mocaiber postergue seu acerto de contas pelos crimes que, segundo Garotinho exaustivamente denunciou, teria cometido.
     Se não for mais uma bazófia é mais um boi voando nos céus da Planície incrédula.

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