Alegando perseguição e sem espaço para se defender das denúncias, Anthony Garotinho fez greve de fome em 2006 |
Para recordar:
Da Folha de S.Paulo, de 30/04/2006 (aqui):
0/04/2006 - 19h02
Garotinho anuncia greve de
fome em protesto a "boicote"
da Folha Online
O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PMDB), pré-candidato à presidência da República, iniciou na tarde deste domingo uma greve de fome em protesto contra o que chamou de "campanha mentirosa e sórdida" para desconstruir sua imagem.
Garotinho afirma que sofre perseguição da mídia, do sistema financeiro e do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, segundo nota divulgada. Disse ainda que suas "posições cristãs e éticas" vêm sendo ridicularizadas. Ele é evangélico.
"Tudo com um só objetivo: impedir que me torne candidato a presidente da República e rompa com este modelo econômico que, ao longo de anos, tem trazido desemprego, fome e miséria para milhões de brasileiros. Um sistema que vem destruindo a nacionalidade brasileira, humilhando as Forças Armadas, entregando nosso patrimônio à ganância estrangeira e, sobretudo, aviltando nossos valores éticos, morais e de amor ao Brasil", afirmou Garotinho em um documento intitulado "À nação brasileira".
Segundo a assessoria do ex-governador, a greve de fome só será suspensa com duas condições: primeira, "que seja instituída uma supervisão internacional no processo político-eleitoral brasileiro, assegurando a igualdade de tratamento a todos os candidatos, com acompanhamento de instituições nacionais que tradicionalmente defendem a democracia"; segunda, "que os veículos de comunicação que fazem calúnias cedam o mesmo espaço para que a população possa conhecer a verdade dos fatos".
Garotinho anunciou sua decisão no diretório regional do PMDB no Rio de Janeiro, ao lado da governadora Rosinha Garotinho e de militantes do partido. A greve de fome será feita na sede do PMDB, acompanhada por uma equipe médica.
30/04/2006 - 19h15
Entenda as denúncias que levaram ao jejum de Garotinho
No domingo 23 de abril, o jornal "O Globo" publica reportagem mostrando que as quatro empresas declaradas por Garotinho como doadoras para sua pré-campanha não funcionam nos endereços fornecidos à Receita Federal.
A Folha revela no dia 25 que José Onésio Rodrigues Ferreira, 33, assaltante que cumpre pena no complexo penitenciário de Bangu, aparece como sócio da Virtual Line Projetos e Consultoria de Informática na época em que a doação de R$ 50 mil para campanha foi efetuada
Uma das empresas doadoras da pré-campanha, a Eprin, tem como sócio Nildo Jorge Raja, que também é sócio do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Treinamento (IBDT), que recebeu o dinheiro do governo de Rosinha, através da Fesp, sem licitação, revela a Folha no dia 26. Luiz Antônio Motta Roncoli, sócio da Virtual Line, outra doadora, divide endereço no centro do Rio com o presidente do IBDT, Reinaldo Pavarino Júnior
A Fesp repassou, sem licitação, R$ 112,5 milhões para três associações de cujas diretorias fazem parte sócios de três empresas doadoras. O Inep recebeu R$ 52,5 milhões. O Inaap, R$ 34,8 mil e o IBDT R$ 25,6 milhões, mostra o Globo no dia 27
A Folha revela que outra ONG financiada pela Fesp é ligada a sócios de empresas doadoras, o Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos do Cidadão (CBDDC), tem como presidente do Conselho Fiscal Hélio Bustamante Secco, irmão de Ricardo Secco, parceiro em vários negócios de Luiz Antonio Motta Roncolli, dono da Virtual Line.
Na edição desta semana, "Veja" divulga que Garotinho teria usado durante a pré-campanha jatinho que pertence a um criminoso, o João Arcanjo Ribeiro, mas que estava sob a guarda de um administrador jurídico e arrendado a uma empresa de limpeza urbana.
aqui
E MAIS:
Edição 1955 . 10 de maio de 2006 | |
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Brasil
Adeus, candidatura
Em greve de fome, Garotinho
mostra que não tem estatura para ser candidato a presidente Ronaldo França e Ronaldo Soares
A pré-candidatura de Anthony Garotinho à Presidência da República começou a definhar, na semana passada, no mesmo ritmo da greve de fome que o ex-governador do Rio de Janeiro se impôs. Acossado por uma série de denúncias de irregularidades em sua pré-campanha e no governo de sua mulher, Rosinha, Garotinho optou pelo dramalhão. Em vez de se explicar convincentemente, preferiu armar um circo. Postou-se na frente de uma porta de vidro, numa sala adaptada para essa finalidade na sede do PMDB fluminense, e ali deu início a seu protesto. Diante das câmeras, aninhou-se nos braços da mulher, foi confortado pelos filhos, recebeu acompanhamento médico e atendeu os poucos aliados que foram lhe prestar solidariedade. Até a sexta-feira passada, o pré-candidato já havia emagrecido 2,6 quilos. Sua perda maior, no entanto, se deu no campo político. O presidente do PMDB, Michel Temer, desaprovou o gesto. Foi seguido por lideranças como o ex-governador de Pernambuco Jarbas Vasconcelos, para quem o ato expôs o partido ao ridículo.
A greve de fome é uma atitude extrema. É arma preferencial de presos políticos e de ativistas sem outra forma de chamar atenção para sua causa desde que o advogado Mohandas Gandhi recorreu a ela no século passado para expulsar os ingleses da Índia. O regime de privação de calorias e proteínas de Garotinho não merecia sequer ser chamado de greve de fome. O político carioca preferiu recorrer a ele antes de queimar todas as etapas de defesa amplamente abertas a ele pela democracia brasileira. Com isso, apenas contribuiu para desmoralizar a arma de protesto dos bravos. Para voltar a comer, Garotinho fez exigências descabidas, entre elas o acompanhamento internacional do processo eleitoral brasileiro, considerado hoje um dos mais transparentes e eficientes do mundo.
O ex-governador também pediu que os veículos de comunicação que publicaram denúncias de irregularidades lhe dêem o mesmo espaço para exercer seu direito de resposta. No caso de VEJA, entre as várias denúncias, ele contestou as informações sobre o uso em sua pré-campanha de um jatinho do ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro, o "Comendador", preso em Mato Grosso. Os advogados de Garotinho afirmam que os bens de Arcanjo foram arrestados e que o avião foi entregue ao administrador judicial Francisco Bomfim, que o arrendou à empresa Construfert Ambiental. VEJA já dera essa mesma informação em sua última edição, não havendo, portanto, o que corrigir. O que existe é algo a acrescentar. O PMDB informa, em sua prestação de contas e na nota de seus advogados, que o avião foi alugado diretamente da empresa Suprema Comércio e Serviços Aeronáuticos. O dono da Suprema, Roberto Squitino, afirmou a VEJA que nunca alugou avião para o PMDB ou para Garotinho. Já a Construfert informou à revista ter feito negócio com uma terceira empresa, a Extra Locação, que não aparece na nota dos advogados nem sequer na prestação de contas do partido. A empresa foi citada na nota oficial divulgada por Garotinho na quarta-feira passada, mas logo em seguida desapareceu das explicações públicas do partido. A Extra admite que prestou serviços ao PMDB e informa que o fez atendendo a pedido da Suprema, que, lembrando, é aquela que nunca prestou serviços ao pré-candidato – a não ser, pelo que parece, por ter fornecido uma nota fiscal. As datas dos vôos não conferem, conforme mostra a apuração dos repórteres de VEJA. Portanto, quem ainda deve explicações sobre o uso do avião do bandido é Garotinho.
Se para Garotinho as denúncias foram motivo de greve de fome, para as autoridades elas foram um prato cheio. A Polícia Federal vai ouvir sócios de empresas de fachada que fizeram doações à pré-campanha. Já o Ministério Público resolveu investigar ONGs que receberam de um órgão estadual – a Fundação Escola de Serviço Público – recursos milionários liberados, na maior parte dos casos, sem licitação, segundo o jornal O Globo. Em algumas dessas ONGs os sócios são os mesmos de empresas que doaram dinheiro à pré-campanha de Garotinho. O Tribunal de Contas do Estado também abriu uma frente de investigação e está analisando os contratos com as ONGs. Para completar, uma CPI deve ser instalada na Assembléia Legislativa fluminense. Enquanto isso, surgem novas denúncias. Na semana passada, veio à tona um caso que mostra que não é novidade a administração estadual tratar generosamente quem apóia campanhas do ex-governador. Nas eleições de 2002, a Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno (Adhonep) custeou algumas despesas de viagem e hospedagem de Garotinho. A entidade tem como vice-presidente Altomir Regis da Cunha, homem de confiança do casal Garotinho no empresariado evangélico e dono da empresa Aloés & Aloés, que possui contratos de mais de 10 milhões de reais para fornecimento de fraldas geriátricas a um órgão estadual. Cunha agora está diversificando os negócios. Criou uma usina de açúcar e álcool em Campos, reduto do casal Garotinho no norte fluminense, projeto que prevê investimento de 300 milhões de reais. Para que o projeto decole, o empresário solicitou mais uma ajudinha do estado na forma de incentivos fiscais. A assessoria do governo informou que o pedido ainda está sendo estudado. Espera-se que nessa avaliação seja levado em conta que Cunha está na mira da Polícia Federal, já que seu nome aparece na base de dados da força-tarefa das contas CC5, em que estão listados contribuintes que enviaram dinheiro ao exterior irregularmente. Os registros de operações bancárias em nome de Cunha no exterior totalizam 2,35 milhões de dólares, em instituições financeiras investigadas nos Estados Unidos por lavagem de dinheiro, como o banco MTB/Hudson e a empresa Beacon Hill, já fechada. Na Beacon Hill, aliás, a subconta utilizada em uma das operações foi a Midler, a mesma usada pela JetSul Linhas Aéreas, empresa que alugou jatinhos para a campanha de Garotinho e está respondendo a inquérito por evasão de divisas.
O PT aproveitou para tirar uma casquinha da agora esquelética candidatura do ex-governador e ofereceu ao PMDB a vaga de vice de Lula na próxima eleição. Para piorar, o partido resolveu antecipar para o próximo sábado a convenção em que vai decidir se terá ou não candidato próprio, gesto que deixou Garotinho ainda mais desanimado. Ao que tudo indica, o PMDB, que fez pouco-caso de sua greve de fome, também não vai alimentar o sonho de Garotinho de chegar à Presidência.
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