sábado, 17 de agosto de 2013

CABRAL DIZ QUE FICA NO GOVERNO ATÉ ABRIL DE 2014. SERÁ QUE AGUENTA?


N° Edição: 2283 | 16.Ago.13 - 20:40 | Atualizado em 17.Ago.13 - 10:56


Sérgio Cabral

"Deixo o governo entre janeiro e abril de 2014"

O governador diz que passará o comando do Estado para o vice, afirma que o vandalismo tomou conta das manifestações e assegura que as UPPs nunca estiveram tão fortespor Eliane Lobato




PMDB NA CABEÇA
O governador do Rio, Sérgio Cabral, diz que não aceita palanque duplo no
Rio, a não ser que Lindbergh Farias (PT) concorde em ser vice de Pezão

Um dia depois de ter visto o Palácio Guanabara, sede do governo estadual do Rio de Janeiro, cercado por manifestantes que tentavam ocupar o local, o governador Sérgio Cabral (PMDB) recebeu a reportagem de ISTOÉ. Dizendo-se “muito preocupado” com o vandalismo que tomou conta dos protestos, Cabral enxerga por trás dos sucessivos atos contra ele segmentos políticos interessados em minar a aliança celebrada entre o governo do Estado, a presidenta Dilma Rousseff (PT) e o prefeito carioca, Eduardo Paes (PMDB). Para brigar pelo triunfo dessa parceria (PMDB-PT), Cabral revela que deixará o governo entre janeiro e abril de 2014. Com isso, o vice-governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão, candidato à sua sucessão, assumirá o governo. “É importante que Pezão tenha tempo de conhecer e conquistar o eleitor fluminense. Acho que essa aliança fez muito bem ao Brasil e eu vou lutar por ela no plano estadual e federal”, disse o governador. Com 51 anos completados em janeiro, Cabral afirmou que, ao deixar o Palácio Guanabara, passará a ser apenas um militante. De Pezão e de Dilma.


"A dupla é essa: Pezão, o pai do PAC, e Dilma, a mãe do
PAC. O Lula disse isso uma vez na Rocinha, e está dito"


"Estou preocupado com o acuamento das instituições.
Coquetel molotov e rojões não fazem parte da democracia"

Fotos: Masao Goto Filho /ag. Isto É; ©REUTERS/B Mathur; Domingos Peixoto / agência o Globo

ISTOÉ - O sr. disse que poderia haver adversários políticos por trás das manifestações. Tem alguma prova?

SÉRGIO CABRAL - Na verdade, eu quis dizer que houve manifestações em todo o Brasil de jovens desejosos de participar, intervir no processo político, exercer cidadania de maneira muito saudável. Após esse momento, em diversas cidades do País, começaram as ações de menor dimensão vocacionadas por grupos que não são ligados a partidos, mas que têm premissas de combate ao poder público e de constrangimento à mídia. São grupos que têm o princípio de coação ao regime democrático, no meu entender. E há outros grupos que são ligados a partidos e lideranças políticas desejosos de antecipar o processo eleitoral. Esse é o processo atual que nada tem a ver com aquele momento, que começou em junho, em que todo o Brasil se manifestou.
ISTOÉ -O que diferencia os dois protestos, os de junho e os de agora?

SÉRGIO CABRAL - O tipo de manifestação atual me impressiona muito. Estou muito preocupado como brasileiro, não é nem como governador, com esse processo de acuamento das instituições com instrumentos que não devem fazer parte do processo democrático, como coquetel molotov, rojões, pedras. Isso eu nunca vi em manifestação. Nunca vi mascarado chegando, como chegaram na segunda-feira 12, no Palácio Guanabara, soltando rojões, jogando coquetel molotov nos policiais. Muitos vândalos quebrando agências bancárias. Isso não é ambiente para País democrático.
ISTOÉ - Acha que a aliança com a presidenta Dilma Rousseff pode ser afetada?

SÉRGIO CABRAL - Há, sem dúvida, no jogo político, forças políticas incomodadas com essa aliança que tem tido muito êxito nas políticas públicas e, como consequência, obtido vitórias eleitorais. Isso há. Em 2006 ganhamos o governo do Estado. Em 2008, nosso candidato a prefeito ganhou na capital (Eduardo Paes-PMDB). Em 2010 eu me reelegi no primeiro turno com 67% dos votos e, em 2012, o prefeito Paes se reelegeu com 65% dos votos, entre outras vitórias. Há setores e segmentos incomodados com as alianças. E, às vezes, até mesmo dentro dos nossos partidos há quem não esteja trabalhando como deveria para que essa aliança permaneça. Isso faz parte do jogo político. A gente tem que ter a sensibilidade para perceber isso.
ISTOÉ - É o momento mais difícil pelo qual o sr. passou?

SÉRGIO CABRAL - Já tive outros difíceis nesses quase 7 anos de governo. Houve um momento terrível em 2008 quando, em seu último ano como prefeito, Cesar Maia (DEM) lavou as mãos com o assunto da dengue e eu comecei a ver as pessoas morrendo. Falei: não vou ficar aqui discutindo se o mosquito é municipal, federal ou estadual. Fui para as ruas com a equipe de saúde assumindo tarefas que, teoricamente, seriam da prefeitura. Fizemos tendas de hidratação e comprei briga com médicos. Aquilo me expôs muito e os meus índices foram lá para baixo. Agora, não sou só eu, o Brasil todo viveu imagens conflitantes; a imagem institucional é que foi questionada.

ISTOÉ - O sr. fica até o fim do mandato?
SÉRGIO CABRAL -  É a primeira vez que falo isso: estou seriamente inclinado a permitir que a população conheça o meu vice Pezão com tempo suficiente para conviver com ele como governador. Então, da mesma maneira que vários governadores deixaram o cargo para o vice disputar a eleição, eu estou pensando em fazer o mesmo. O Pezão é homem público de uma seriedade, eficiência, simplicidade e capacidade extraordinária. É um sujeito que veio do chão da fábrica, foi vereador e prefeito. Ele é o nome para dar continuidade à obra política. É a maior segurança que este Estado tem para continuar no caminho certo.

ISTOÉ -  Quando o sr. pretende sair do governo, então?
SÉRGIO CABRAL - O prazo máximo é abril, porque as convenções são em junho, e não quero ficar muito perto do processo eleitoral. Quero que ele tenha tempo de amadurecer a relação dele com a população. Mas pode ser antes, pode ser em janeiro, estou estudando. Deixo o governo entre janeiro e abril de 2014.

ISTOÉ -  E o seu futuro?
SÉRGIO CABRAL -  Olha, vou responder com um trecho da música do Zeca Pagodinho: deixa a vida me levar. Vou me tornar um militante e lutar pela aliança entre o PT e o PMDB. Acho que essa aliança fez muito bem ao Brasil e eu vou lutar por ela no plano estadual e federal. Fora do governo fico mais liberado, mais à vontade para trabalhar essa aliança, que acho muito importante. Ela viabilizou conquistas para o Estado e para o Brasil. Acho que é meu dever conseguir amalgamar os três níveis de poder. Não significa que eu, Eduardo (Paes) e Dilma não tenhamos divergências, temos sim, mas temos uma agenda em comum e qualquer coisa que comprometa esse rumo é ruim.

ISTOÉ - O sr. continua sendo contra a possibilidade de Dilma ter dois palanques no Rio de Janeiro?
SÉRGIO CABRAL - Eu sou muito claro em relação a esse tema. Temos uma história de quase sete anos de parcerias, conquistas, solidariedade mútua. Isso não pode ser interrompido.

ISTOÉ - Uma aliança entre os dois candidatos Lindbergh Farias e Pezão é viável?
SÉRGIO CABRAL - Estamos de braços abertos para o PT continuar conosco nesse processo de aliança. Mas acho que temos a legitimidade, o direito de lançar o candidato a governador. Numa aliança é preciso olhar o todo, o processo geral. De coração aberto, quero discutir com os companheiros a manutenção dessa aliança.

ISTOÉ - A presidenta Dilma tem manifestado apoio?
SÉRGIO CABRAL - Muito. A presidenta é nossa companheira. Não só ela, mas também seus ministros. Hoje falei longamente com a ministra Miriam Belchior sobre a Linha 3 do metrô que estamos na eminência de conquistar os recursos. Porque é uma obra importante que liga Niterói/São Gonçalo e Itaboraí. Minha relação com os ministros do governo é muito respeitosa, carinhosa. E a presidenta é uma amiga. Ela sempre disse: “Serginho, você não é meu companheiro, é amigo”. E ela tem razão. Trocamos confidências. Ela me dá boas dicas de filmes e livros. E temos uma coisa em comum: somos liderados por Luiz Inácio Lula da Silva. A dupla é essa: Pezão, o pai do PAC, e Dilma, a mãe do PAC. O Lula disse isso uma vez na Rocinha, e está dito. É isso. Será que essa construção de aliança, essa solidariedade recíproca, merece ter dois palanques no Rio?
 
ISTOÉ - Muda algo nas UPPs?
SÉRGIO CABRAL -  Nunca esteve tão forte como está hoje. A gente tem que lembrar que antes das UPPs sumiam pessoas semanalmente na Rocinha. Quando essas comunidades eram controladas pelo poder paralelo, tráfico e milícia, o micro-ondas queimava pessoas. O Tim Lopes foi vítima disso. Claro, há interesses na desmoralização das UPPs por parte de marginais que querem enfraquecê-las. Sobre a resolução 013 da segurança, que põe na mão do comandante da UPP a decisão se pode ter bailes funks ou não, acho que está errado. Vou ligar para o Beltrame (o secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame) porque está errado. Na época que fizemos isso era outra fase. Hoje não precisa mais. Não é mais a Secretaria de Segurança, vai voltar a ser a prefeitura. A primeira UPP vai completar cinco anos em dezembro. A da Rocinha, dois anos em dezembro. A do Alemão, três anos em novembro. Depois de 40 anos de controle paralelo, barra pesadíssima. A resolução 013 é a segurança regulamentando eventos. Vamos devolver à prefeitura a responsabilidade de organização de eventos, além de outros órgãos legais, como bombeiros.
ISTOÉ - E o caso Amarildo, como fica?
SÉRGIO CABRAL - Está nas mãos da Delegacia de Homicídios. Confio no delegado Vivaldo Barbosa. É um caso que ninguém mais do que eu e o Beltrame queremos que seja elucidado, e tenho certeza que será. Tem uma linha de investigação que aponta para responsabilidade de PMS e outra linha que aponta para o tráfico. Como qualquer outra investigação, está sendo apurada. Importante é que ninguém vai passar a mão na cabeça de ninguém, não tem proteção a ninguém.

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