Rafael Diniz: “O que tem nessa cumbuca da cultura?”
Por alexandre bastos, em 22-09-2013 - 12h25
Aos 30 anos, o vereador mais jovem da Câmara de Campos, Rafael Diniz
(PPS), aponta a falta de transparência do governo municipal, questiona a
ausência de um debate amplo sobre a cultura e deixa perguntas no ar.
“Fico me perguntando o que tem nessa cumbuca da cultura? O que é que tem
dentro, que só certas pessoas podem botar a mão?”, indagou Rafael, que,
no último dia 18, viu o seu requerimento solicitando uma audiência
pública para debater a cultura ser negado pela bancada governista na
Câmara. Em entrevista à Folha, o parlamentar falou sobre seus planos
para o futuro e deixou claro que não existe possibilidade de aliança com
o deputado federal Anthony Matheus (PR), que estaria flertando com o
seu partido. Questionado sobre qual nota o governo Rosinha merece, ele
foi direto: “Minha nota é três. Até porque, não podemos passar desse
número com a saúde e a educação que temos”.
Folha da Manhã – Na última quarta-feira a bancada governista
votou contra o seu requerimento que solicitava uma audiência pública
para debater a Cultura na Câmara. Na sua visão, o fez o “rolo
compressor” atropelar o debate?
Rafael Diniz – Confesso que fiquei surpreso. O fato
de receber apoio da vereadora Auxiliadora, que é membro da bancada
governista, me fez acreditar na aprovação deste requerimento, o que
infelizmente não aconteceu. Se este governo vem demonstrando
sistematicamente problemas com transparência, este fato só confirma esta
tendência. Mas, neste caso específico, fico me perguntando o que tem
nessa cumbuca da cultura? O que é que tem dentro, que só certas pessoas
podem botar a mão?
Folha – Durante a sessão, a vereadora Linda Mara Silva
informou que teria tentado marcar um encontro entre a presidente da
Fundação Osvaldo Lima, Patrícia Cordeiro, com a bancada de oposição.
Houve de fato essa proposta? Os oposicionistas pretendem conversar com
Patrícia?
Rafael – Quando a vereadora Linda Mara me perguntou
se eu e os oposicionistas aceitaríamos conversar com Sra. Patrícia, eu
disse que não haveria problema, até porque eu já tinha apresentado o
requerimento da audiência pública, e entendia que este era o melhor
espaço para que ocorresse esse diálogo/debate. O que me espanta é o fato
deles serem favoráveis a uma conversa interna, mas negarem o debate
público.
Folha – Em seu blog “Opiniões”, o jornalista Aluysio Abreu
Barbosa informou que os artistas, jornalistas e historiadores ouvidos
pela Folha, que desabafaram sobre a política devem ser recebidos pelos
membros do estafe municipal. Qual é a sua visão sobre esse debate
interno?
Rafael – Todo debate é salutar para o exercício da
democracia. O Poder Executivo tem o direito e o dever de ouvir a
população e discutir sobre todos os temas, especialmente cultura. Mas
isso não pode impedir que nossa Casa de Leis também promova este debate.
Nós não podemos nos esquecer que somos a Câmara Municipal, um poder
independente, e não mais uma secretaria do governo.
Folha – Em maio você solicitou, ao lado do vereador Fred
Machado, informações sobre os gastos com o Carnaval fora de época. Após a
bancada governista votar contra o seu pedido de informação, alguém
apareceu para listar os gastos com os shows? Você tem noção de quanto
foi gasto com o evento?
Rafael – Não, não me responderam nada. Além de me
negarem um pedido de informação na Câmara, a Prefeitura até hoje não
respondeu oficialmente meus questionamentos. Na condição de
representante da população esperava uma resposta. Obtive essas
informações muito depois, apenas através dos blogs locais e do Diário
Oficial. Vale lembrar que a apresentação da Escola de Samba Vila Isabel
custou R$ 100 mil, Unidos da Tijuca custou R$ 80 mil e Grande Rio R$ 90
mil. Tudo isso para dar uma simples volta no Cepop.
Folha – Saindo do campo cultural e entrando no campo
político, especula-se nos bastidores que o seu partido, o PPS, pode
caminhar ao lado do deputado federal Anthony Matheus (PR), na eleição de
2014. Se essa articulação se concretizar, qual será o seu
posicionamento?
Rafael – Sinceramente, ainda não sei nada desta
possível articulação. Mas se assim for, buscarei alternativas legais e
jurídicas para me afastar deste processo. Nunca caminhei com esse grupo
político e não existe nenhuma possibilidade de apoiá-lo, seja agora ou
em qualquer futuro.
Folha – Na eleição de 2010 o seu pai, Sérgio Diniz, foi
candidato a deputado federal e recebeu mais de 16 mil votos no
município. E na eleição de 2014, você pensa em disputar uma cadeira na
Alerj ou na Câmara Federal?
Rafael – Hoje isso não está nos meus planos. Todas
as minhas energias e esforços estão voltadas para a boa realização do
meu mandato de vereador.
Folha – Na tribuna da Câmara, você tem dito que existem dois
governos. Um que aparece nas propagandas e outro que pode ser visto nas
ruas. Que nota você dá para o governo Rosinha?
Rafael – Além das propagandas, outro fator que me
faz crer que realmente há duas cidades são as defesas feitas pelos
vereadores governistas na Câmara. Para a maioria deles, o que existe é
uma cidade perfeita com uma população que não reclama de nada. Já para
mim, o que verdadeiramente existe é uma cidade cheia de problemas, com
uma população que está sempre questionando. Não existe perfeição, como
também não existe nada que seja horrível por inteiro, por isso, minha
nota é três. Até porque, não podemos passar desse número com a saúde e a
educação que temos.
Folha – Em política é impossível trabalhar sem ter em mente
um planejamento a longo prazo. Você pensa em se candidatar à Prefeitura?
Dependendo das movimentações do tabuleiro político, essa candidatura
pode acontecer em 2016?
Rafael – Pode parecer engraçado, mas muito antes de
ser candidato a vereador, desde de criança eu sonho ser prefeito do
município. No meu mandato de vereador tenho procurado me preparar,
estudar, amadurecer e, principalmente, conhecer cada vez mais minha
cidade. Mas até lá tem muita água para passar debaixo desta ponte. De
qualquer forma, caso isso aconteça, quero estar pronto para cuidar de
Campos.
Folha – Qual é a sua avaliação sobre a oposição em Campos.
Existem muitas divisões internas que impedem um trabalho mais
harmonioso?
Rafael – Acredito que nós quatro vereadores
oposicionistas temos cumprido bem nosso papel. Dentro da Câmara, posso
afirmar que existe um trabalho coeso e de muita união na oposição.
Porém, num plano geral de oposição, acredito que há pontos a serem
melhorados. Mas, tenho certeza que se dia formos realmente unidos,
mudaremos essa história.
Folha – Em recente reunião ao lado do vereador Jorge Magal
(PR), a deputada Clarissa (PR) disse que tem muito filho de político
fazendo muita besteira por aí. Segundo Clarissa, “não basta ser filho de
político. Tem que entender que a política é uma vocação”. Como filho e
neto de político, você concorda com a deputada?
Rafael – Concordo plenamente. Em qualquer caminho de
nossas vidas temos que ter vocação para segui-lo bem, ainda mais quando
se trata de política.
Folha – Após nove meses em uma Câmara dominada pelo grupo
governista, com 21 vereadores ao lado da prefeita e apenas na oposição,
qual é o balanço que você faz da sua atuação na Casa? Tem colocado em
prática mais o estilo do seu pai, Sérgio Diniz, ou o do seu avô, o
ex-prefeito Zezé Barbosa?
Rafael – Procuro cumprir o meu papel, fazendo uma
oposição técnica e responsável, sem jamais deixar de respeitar quem quer
que seja. Aprendi muito com meu avô e com meu pai. Eles são os meus
maiores exemplos de homem na vida pessoal e política. Sem dúvida nenhuma
procuro carregar o melhor de cada um. Porém, o que realmente quero é
que as pessoas possam conhecer cada vez mais o meu estilo, a minha
identidade – Rafael Barbosa Diniz.