domingo, 24 de julho de 2016

MÉDICOS NO PODER E A QUALIDADE DA SAÚDE

Líder do governo d. Rosinha, Hirano passou por tratamento
 médico no exterior no ano passado, mas estaria pronto para a campanha

Batista pode ser recompensado por sua lealdade ao grupo político por sua
atuação como presidente da Câmara nos últimos quatro anos
Vice nos últimos oito anos, o também médico Chicão não pode
mais disputar a vice. Só a cabeça de chapa, possibilidade cada dia mais distante

        A se confirmarem os rumores do final de semana, na próxima quarta-feira, 27, serão ungidos dois médicos na chapa que vai representar o grupo político dominante nas eleições de outubro para a Prefeitura de Campos: Paulo Hirano (PR) prefeito e Edson Batista (PTB) o vice. Independente da qualidade política de ambos, se depender das probalidades, a dupla é  favorita para administrar as dívidas do município pelos próximos quatro anos. Das últimas 16 eleições para a Prefeitura de Campos ocorridas nos últimos 50 anos, em apenas três não havia um médico na chapa vencedora: Zezé Barbosa/Valdebrando Silva (1982), Sérgio Mendes/Amaro Gimenes (1992), Carlos Alberto Campista/Toninho Viana (2004).
A famosa dupla composta pelo industrial Zezé Barbosa e o médico Lourival Martins Beda já havia sido vitoriosa na eleição de 1966 e voltara “por vontade popular” e "depois de um descanso merecido" , como dizia a marchinha de campanha, ao governo na eleição de 1972. No pleito seguinte (1976), foi a vez do engenheiro Raul Linhares e do médico Wilson Paes chegarem ao poder. Raul foi um raro caso de desapego ou de desencanto e deixou um ano inteiro para seu sucessor, além de respeitável legado como obras de infraestrutura importantes, o Calçadão e a recuperação do Villa Maria. Em 1988, Garotinho (então PDT) estreou na prefeitura com o médico Adilson Sarmet (PSB) na vice e numa aliança que duraria pouco mais de um ano. Sarmet, que fora nomeado para dirigir o Hospital Ferreira Machado, que estava em fase de reabertura, foi demitido pelo prefeito e as relações azedaram de vez.
Eleito para um segundo mandato em 1996, Garotinho voltou com outro médico na garupa, desta vez o popular vereador Arnaldo França Viana, que o substituiria para concluir o mandato a partir de 1998 e eleito prefeito na primeira eleição do século 21. O sucessor de Arnaldo, eleito numa chapa sem médico, foi cassada cinco meses e 13 dias após a posse e substituído pelo presidente da Câmara, o médico Alexandre Mocaiber,  logo depois efetivado na eleição suplementar de 2006. Na sequência, foram dois governos de dona Rosinha com o médico Chicão Oliveira na vice.
Médico no poder em Campos não é novidade apenas nos últimos cinquenta anos ainda alcançados pela memória do jornalista cinquentão. Com apoio da pesquisa do historiador Hélvio Cordeiro, do Instituto Historiar (aqui) e do imprescindível livro “Política, Políticos & Eleições”, de Vivaldo Belido de Almeida (Ed. Alvorada – dezembro de 1988), é possível descobrir que o primeiro médico a assumir a Prefeitura de Campos foi José Nunes Siqueira (1910/1911), seguido dos também médicos Luiz Caetano Guimarães Sobral (de 1914 a 1918 e 1920 a 1924 e 1930);  Benedito Gonçalves Pereira Nunes (1928-1930); Oswaldo Luiz Cardoso de Melo, (1931 a 1932); Sílvio Bastos Tavares, (1932 a 1933 e de 1939/1937); Manuel Ferreira Paes, (1945/1946 e 1947 a 1951); João Barcelos Martins (1955-1959 e 1963 a 1964) e Edgardo Nunes Machado (1962).
Se o tal Conselho da Frente Popular Progressista — apelido pomposo da sopa de letrinhas de partidos barganhados para apoiar a candidatura do grupo político dominante — não optar pela chapa dos dois médicos, a possibilidade é de que pelo menos uma das vagas seja de alguém da área da Medicina. A dupla Paulo Hirano/Mauro Silva não vingou, dizem as más línguas, por excessivamente “estrangeira”. Bobagem. O fato de ambos terem nascido no Paraná não desmerece a carreira de ambos, construída na planície goitacá. Mas isso é assunto para outra hora...

A questão é, se a cidade teve tantos médicos administrando a cidade desde o início do século XX, por que a qualidade do atendimento na área da Saúde ainda é a principal queixa da população?