Cunha, com mandato a ser cassado em 12 de setembro, deu o governo a Temer. O que quer e o que terá em troca, o tempo dirá. Ou não |
Em primeiro de abril de
1964, a auréola do poder que se prometia eterno ornava as cabeças dos civis e
militares que derrubaram o presidente João Goulart. Magalhães Pinto, Carlos
Lacerda e a maioria das empresas de mídia se uniram aos militares para interromper, por duas
décadas, as reformas de base que o então Brasil entre agrário e industrial exigia. Atrasaram o país em pelo menos 50 anos. Dez
anos antes, haviam tentado o mesmo levando ao suicídio o presidente Getúlio
Vargas, a um ano e quatro meses do fim de seu mandato conquistado nas urnas.
O golpe parlamentar, perpetrado hoje em Brasília, não é pois novidade e muito menos original. “Ódio velho
não cansa”, ensina o sempre saudoso Adão Pereira Nunes. Mesmo que Vargas,
Goulart e Dilma tenham cometidos seus pecados, o que justifica a interrupção de
seus mandatos não são esses pecados, e sim a absoluta incapacidade das elites
brasileiras de se contentar com muito que lhe dão. Elas querem tudo.
Vargas foi chamado de “pai
dos pobres e mãe dos ricos”, Jango talvez tenha sido o que menos tenha agradado
aos poderosos; e Dilma, como Lula,
encheu até não mais poder as burras dos banqueiros e congêneres. Então, por que
as elites — termo para o qual torcem o nariz os genuínos integrantes e os aspirantes a elas —
teriam conspirado contra um governo legítimo para instalar um bando de
sanguessugas nos gabinetes do Planalto? Porque justamente mais o tudo não lhes bastam. Querem impedir qualquer possibilidade histórica de ascensão das classes estacionadas abaixo delas.
Financeira e
ideologicamente falando, o Brasil entra hoje numa pauta político-econômica mais
retrógrada do que tínhamos há 40, 50 anos, sem falar nos direitos sociais ameaçados
de sumir pelo ralo e uma agenda conservadora-religiosa de provocar engulhos. As
manchetes dos jornais desde o final de semana já adiantavam os programas “modernizantes”
que privatizam hospitais, escolas e creches. Querem o que dá lucro e as
despesas sociais que vão para iniciativa privada para que cobrem o quanto quiserem
e, assim alijar qualquer possibilidade
de ascensão social das camadas mais pobres. Bye-bye classe média.
Quem viver verá o
retrocesso. Mas como a história é caprichosa e cíclica, verá também que ela reserva
para a sua fétida lata de lixo, personagens como Cunhas, Aécios e Temers que, por má-fé política ou pura ambição financeira,
participaram do ardil que culminou com o impeachment da agora ex-presidente
Dilma Rousseff. Mas não estarão sozinhos, porque dividirão a lata de lixo da
história com gente como Magalhães Pinto, Carlos Lacerda, Costa e Silva, cuja
mão assinou o Ato Institucional nº 5, e toda a sórdida gente que há cinco
séculos teima em impedir a emancipação do povo brasileiro.
Bom apetite para
vocês e paciência para nós.