Que a política nacional de segurança, especialmente no Estado do Rio de Janeiro, faliu, parece que não há dúvida e nem é novidade. Mas o que fazer depois dessa constatação?
O exílio forçado do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol-RJ) é a face mais visível de uma sociedade refém de bandidos. E por bandido entenda-se todos que se juntam para desrespeitar e lei ou valer-se dela para subjugar a sociedade com apoio tácito ou explícito do Estado em todas as suas instituições.
Eleito com 177.253 votos, Marcelo Freixo é herói num Estado de omissos e coniventes. Apesar da pouca idade (40 anos), tem uma longa vivência na luta pelos direitos humanos. Tem um currículo (aqui) de quem não se conforma com o que parece não ter jeito e revelou-se um dos mais ativos parlamentares da política brasileira dos últimos anos e respeitado por organismos internacionais de defesa dos direitos humanos.
Pois bem: o governo do Estado do Rio de Janeiro, que há décadas é cúmplice do crime organizado (por ação ou omissão) não conseguiu garantir a segurança deste parlamentar, constantemente ameaçado pelas milícias, organizações paramilitares que concorrem com o tráfico de drogas nas comunidades carentes do Grande Rio e com ramificações já visíveis no interior do Estado.
A falência está constatada, e agora, o que fazer? As UPP´s podem até surtir alguns efeitos positivos, mas o Estado continua perdendo para o crime. E por "Estado" entende-se o país e o próprio estado democrático de direito.
O Rio de Janeiro não conseguiu garantir a segurança de um de seus representantes e nenhum outro ente da União teria condições de fazê-lo caso outros parlamentares resolvessem sair de seus confortáveis gabinetes, omissões ou conivências, para enfrentar a nobre causa que levou Freixo ao exílio.
A falência, pois, é do Estado brasileiro, que aliás, continua em silêncio, com a omissão do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardoso e da presidenta Dilma.
Falimos. E agora, o que fazer?
Atualização às 21h 38 -
Do site do Marcelo Freixo: Milícia: enfrentamento internacional |
O deputado estadual Marcelo Freixo está na Europa a convite da Anistia Internacional. A iniciativa foi motivada pelas circunstâncias recentes em que pioraram a quantidade e a gravidade das denúncias recebidas pelo parlamentar de planos para matá-lo. Foram sete denúncias apenas em outubro. Freixo aceitou o convite da Anistia como uma forma de se afastar do Rio de Janeiro e do País em um momento no qual se tornou mais crítica a questão de sua segurança. Nesse período de afastamento, o deputado espera que sejam tomadas providências para completar o aparato a serviço de sua proteção. Além disso, Marcelo Freixo está na Europa para denunciar internacionalmente a situação do Rio de Janeiro no que se refere ao avanço territorial, econômico e armado das milícias. Segundo o deputado, apesar das mais de 500 prisões de milicianos realizadas desde 2008, falta ao Estado cumprir a maioria das 58 propostas de ações concretas, apresentadas no Relatório Final da CPI das Milícias, para enfrentar o problema em sua raiz, principalmente, cortando seus sustentáculos econômicos. Freixo cobra ações estruturais para garantir não só a sua segurança, mas de toda a população que vive nos territórios subjugados por esse tipo de máfia. Entre as ações propostas para dar visibilidade às denúncias do deputado, a Anistia promove encontros com autoridades e palestras na Europa. Leia a nota da Anistia Internacional e da Front Line Defense. |