Lúcio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados
O ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, principal delator da operação Lava-Jato, deu hoje o seu mais importante depoimento na CPI que investiga corrupção Na Petrobras. Confirmou que negociou com pelo menos 29 dos 59 políticos investigados pelo Ministério Público Federal (MPF) e criticou o atual modelo de financiamento de campanhas e a gestão da estatal. Paulo Roberto Costa foi gerente-geral da Bacia de Campos nos anos 1990.
Abaixo matéria do G1:
O ex-diretor de Refino e Abastecimento Paulo Roberto Costa afirmou nesta terça-feira (5) em depoimento à CPI da Petrobras, na Câmara dops Deputados, que a origem da corrupção na estatal teve origem em “Brasília”, por ação de “maus políticos”.
Foi a quarta vez que Costa compareceu ao Congresso para prestar depoimento. As outras foram em
junho, em
setembro e em
dezembro do ano passado.
“Isso [a corrupção] aconteceu por atitudes de maus políticos,. Não foi a Petrobras que inventou o cartel [de empresas], não foi o diretor que inventou. A origem, a gênese, foi aqui em Brasilia”, afirmou Costa.
Em seguida, Costa listou políticos que teriam se beneficiado do pagamento de propina, conforme já havia relatado em seus depoimentos à Justiça.
"Da minha parte, foram os políticos que já citei na minha delação, que é de conhecimento [público], políticos do PP, do PMDB do PT”, disse.
Ao tentar se lembrar dos nomes, provocou risos na plateia ao relatar a dificuldade que tinha em se citar todos. “São tantos que me fogem os nomes”, justificou.
“Do PP, começou com José Janene [já falecido], prosseguiu com o Mário Negromonte e o senador Ciro Nogueira [PP-PI]. No PMDB, o senador Renan Calheiros [PMDB,AL, presidente do Senado], [deputado] Aníbal Gomes [PMDB-CE], e senador Romero Jucá [PMDB-RR]. (...) Do PT, tive contato com o senador Lindbergh Farias [PT-RJ], senador [Humberto] Costa, de Pernambuco”, afirmou.
Costa disse aos integrantes da CPI que fez "contatos" com esses parlamentares. Integrantes da comissão perguntaram a ele qual era o tipo do contato. "Contato que eu falo é situação irregular", disse Costa.
Indagado se havia alguém do governo com quem tenha feito "contato", mencionou o senador Edison Lobão (PMDB-MA), ex-ministro das Minas e Energia. "O ministro Edison Lobão foi também mencionado [no depoimento da delação premiada]. Quando digo mencionado, [quero dizer que] foi com problema", afirmou.
Todos os parlamentares mencionados estão entre os
investigados em inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) e
negam envolvimento, conforme Costa afirmou ao Ministério Público em depoimento por meio de acordo de delação premiada (pelo qual obtém benefícios, como redução da pena, se colabora com as investigações).
Em outro momento da sessão, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) leu, nome por nome, a lista dos políticos alvos de investigação no Supremo, e Costa confirmou, com respostas “sim” ou “não” quais ele dizia saber que supostamente se beneficiaram do esquema (veja no vídeo ao lado).
Costa reiterou que denunciou todos os políticos de que sabe e negou estar protegendo alguém. “Imagina que eu iria proteger alguém alguém em detrimento a minha família, a minha esposa e filhas. (...) Eu não poupei ninguém”, disse.
O deputado André Moura (PSC-SE), um dos sub-relatores, insistiu em saber para quem o ex-diretor prestava contas, mas Costa disse apenas que o esquema tinha tido origem em Brasília.
Ao deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Costa admitiu, porém, que haverá mais desdobramentos da Operação Lava Jato, com revelações de fatos novos. “Eu não tenho dúvida disso. Promotores têm dito que novas fases virão”, afirmou.
Campanha de 2010
Costa reafirmou depoimento dado anteriormente à Justiça de que houve um repasse da cota que era do PP para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. “Houve
pedido de R$ 2 milhõespara a campanha da presidente Dilma, sim”, disse Costa
Ele reconheceu ainda que o esquema na Petrobras foi mantido com o aval de partidos para atender a interesses das legendas. “Obviamente que houve interesse partidário para que isso prosseguisse”, disse.
Sobre o impacto da corrupção nas contas de 2014 da Petrobras, o ex-dirigente, porém, atribuiu o maior parte do prejuízo registrado no ano passado à má gestão.
“Não estou me eximindo de nenhuma culpa, sou culpado, estou pagando por isso, minha família está pagando por isso. Mas se tem que entender que a Lava Jato foi só 10%”, disse (veja no vídeo ao lado).
Costa relatou ter levado ao Conselho de Administração em 2010, 2011 e 2012 estudos que apontavam a necessidade de reajuste nos preços da gasolina e do diesel. No entanto, as sugestões acabaram rejeitadas pelo então presidente do conselho, que à época era o ex-ministro Guido Mantega.
Bate-boca
O clima na CPI chegou a ficar tenso quando Costa explicou que havia mandado aterrar a piscina que existia no terreno da sua casa por um problema crônico de vazamento de água e que tinha dificuldade em pagar a conta de água. “Isso virou um caso folclórico”, disse o ex-diretor.
O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que o indagava no momento, rebateu: “Folclore é imaginar que, com a dinheirama correndo, o senhor estava com dificuldade para pagar a conta de água do vazamento”.
Seguiu-se, então, um bate-boca entre os dois. Costa pediu respeito: “Eu sou um cidadão brasileiro, eu errei , agora eu mereço ser respeitado”. Marun retrucou dizendo que ele estava sendo respeitado mais do que devia.
A Polícia Federal chegou a fazer diligências nas residência do ex-diretor para verificar suspeita levantada pelo policial afastado Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, de que Costa teria ocultado dinheiro no terreno da sua casa. Os peritos da polícia usaram um equipamento capaz de detectar volumes a vários metros de profundidade, mas não detectaram nada.
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Doações de empresas
No depoimento, Costa afirmou aos deputados da CPI que investiga desvios de recursos da estatal, que não há "
almoço de graça" e que empresas fazem doações oficiais a campanhas eleitorais para “cobrá-los” depois.
Um dos argumentos utilizados pelo tesoureiro licenciado do PT, João Vaccari Neto, para justificar as doações obtidas de empresas investigadas na Operação Lava Jato é que foram realizadas legamente, mediante recibo e com registro na Justiça Eleitoral. O Ministério Público afirma que parte das doações oficiais a partidos foi feita com recursos oriundos do superfaturamento de obras da Petrobras.
De acordo com Paulo Roberto Costa, que negou conhecer Vaccari, várias doações oficiais dessas empresas são oriundas de propina obtida nos contratos entre Petrobras e empreiteiras. "Isso está se comprovando [pelas delações], que várias doações oficiais vieram de propina, isso está claro", afirmou. "Não existe almoço de graça”, disse Costa.