Do Estado de S.Paulo de hoje, 20/04/2014 (
aqui):
Pastor afirma que não vai pautar eleição com temas polêmicos
Pré-candidato do PSC à Presidência, Everaldo Dias Pereira diz que só vai 'dizer o que pensa' se provocado pela imprensa
20 de abril de 2014 | 2h 06
WILSON TOSTA / RIO - O Estado de S.Paulo
Quando integrou, como subsecretário da Casa Civil do
Rio, o governo Anthony Garotinho (1999-2002), o pastor da Assembleia de
Deus Everaldo Dias Pereira circulou com facilidade junto ao PDT, PSB e
PT. Na época, pilotava, via igrejas evangélicas, o programa Cheque
Cidadão, que distribuía vales-compra a famílias pobres em uma gestão
acusada de populista. Mais de uma década depois, o religioso, empresário
e vice-presidente nacional do PSC mudou. Tentará a Presidência da
República com as bandeiras da privatização e da defesa da família
tradicional. Também ataca as propostas de legalização do aborto e das
drogas.
O pré-candidato pelo PSC assegura: vencerá a eleição presidencial de
outubro próximo. "Defendo o Estado necessário, (quero) acabar com os
cabides de emprego, ter foco em segurança pública, saúde e educação. Se
isso é ser liberal, sou liberal", discursa, ao falar por telefone, de
Campina Grande (PB). De lá, partiria para o Paraná, na maratona de
viagens que empreende toda semana, há alguns anos. "Vamos voltar a
crescer com ordem e progresso."
Com 2% na pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira passada, Dias
avisa que não pretende pautar questões como homossexualidade, aborto ou
drogas em sua campanha. Mostra-se, porém, realista. "Vocês, da imprensa,
vão pautar, e eu vou dizer o que penso", diz.
Dias ressalta que é "pela família, pelo direito à vida e contra a
liberação das drogas" - mas se expressa com cuidados de candidato.
"Tenho o direito de defender que casamento é como está na Constituição,
entre homem e mulher. Mas todo cidadão tem o direito de sustentar o
pensamento contrário", diz.
O pastor defende o ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara Marco Feliciano (PSC-SP), cuja gestão, centrada na defesa de
valores morais conservadores, foi duramente contestada por grupos de
ativistas. Dias argumenta que o parlamentar teve mais de 200 mil votos e
foi escolhido pela maioria dos seus pares no colegiado. Na presidência,
afirma, Feliciano passou a ouvir outros setores além do que chama de
"minoria que até então só tinha os seus interesses atendidos". Por isso,
declara, foi atacado.
Política. Até 1998, Dias, que tem 58 anos e é filho e
neto de pastores, era um desconhecido na política. Militava, porém,
desde o início dos anos 1980 em apoio a Leonel Brizola (PDT). De origem
modesta, nascido na favela de Acari, na zona norte do Rio, em uma
família com mais cinco irmãos, participou, em 1989, do Comitê Cristão da
candidatura do pedetista à Presidência. No segundo turno, a pedido de
Brizola, apoiou Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Curiosamente, ele afirma não ter sido filiado ao pedetismo. Em 1992,
apoiou Benedita da Silva (PT) na disputa pela prefeitura do Rio. Depois,
veio o apoio a Garotinho nas corridas pelo governo fluminense e o
convite para a subsecretaria da Casa Civil, após a vitória em 1998.
O comando do Cheque Cidadão, que o pastor calcula ter beneficiado 50
mil famílias pobres, lhe deu notoriedade. E também críticas, já que os
vales de R$ 100 eram distribuídos via instituições religiosas, quase 90%
delas igrejas evangélicas.
Uma década depois, o pastor avalia o programa, extinto no governo
Sérgio Cabral (PMDB, 2007-2014) como "muito positivo". O Cheque Cidadão
foi atacado, porém, por suposto objetivo eleitoral: reforçar a
candidatura de Garotinho ao Planalto.
"É um negócio interessante. Garotinho, coitado, era (chamado de)
populista porque tinha o Cheque Cidadão. Hoje, tem o Bolsa Família, e
não falam que é populista", ironiza.
Depois da eleição de Rosinha Garotinho como governadora do Rio em
2002, o pastor ocupou, de janeiro a agosto de 2003, a presidência do
Rioprevidência, fundo de aposentadoria dos servidores estaduais. Logo,
porém, deixou o governo. "Tenho minha corretora de seguros, fui cuidar
da minha vida." Dias é formado em Ciências Atuariais.
Orgulho. Fora do governo, o pastor continuou na
política. Assumiu a vice-presidência nacional do PSC em julho de 2003 e
passou a participar da articulação nacional do partido. "Tínhamos feito
um deputado federal em 2002, elegemos nove em 2006 e fizemos 17 e um
senador em 2010". orgulha-se.
E, mesmo fora do Executivo, permaneceu perto da máquina do Estado. No
governo Cabral, seu filho, o deputado Felipe Pereira (PSC), foi
secretário de Prevenção à Dependência Química.
Pai de três filhos, ele foi pastor em Vila Kennedy e Irajá, bairros
pobres do Rio. Depois, tornou-se pastor auxiliar da Assembleia de Deus
em Madureira.