Do Blog Opinões (
aqui),do confrade Aluysio Abreu Barbosa, na Folha on Line:
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O que Garotinho fez e disse entre o Hospital Souza Aguiar e o Complexo Penitenciário de Bangu? (Foto de Alexandre Cassiano – Agência O Globo) |
Por Aluysio, em 04-12-2016 - 10h39
“Como se nada tivesse acontecido”
Por Aluysio Abreu Barbosa
Como penso ter sido com a maioria, não me fez bem assistir às cenas (
aqui e
aqui) de transferência de Anthony Garotinho (PR), do Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo Penitenciário de Bangu, na noite do último dia 17. Vendo e revendo as cenas da sua condução coercitiva, primeira da cama do hospital, depois na saída deste, de maca, até a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), fiquei dividido entre duas das muitas interpretações do fato, que pipocaram da democracia irrefreável das redes sociais.
A primeira (
aqui), à qual me inclinei pelo emocional, foi da Vanessa Henriques, estudante de Ciências Sociais da Uenf:
— Não tenho nenhum apreço pela figura de Garotinho, muito pelo contrário. Mas não consigo me regozijar nem um pouco diante dos vídeos e imagens de sua transferência para Bangu. Só consigo sentir tristeza. Só consigo lamentar por tudo isso que estamos vivendo. Só.
A segunda (
aqui), na desconfiança da razão, foi do advogado e publicitário Gustavo Alejandro Oviedo:
— (Garotinho) Estava tranquilo na maca, com as mãos detrás da cabeça. Mas tinha de aparecer alguém com um telefone filmando. Pronto: começou a novela.
Confesso que, de lá para cá, como jornalista e blogueiro, busquei me afastar individualmente da cobertura do caso. Mesmo porque, após divulgar (
aqui) no blog “Opiniões” o laudo médico da UPA de Bangu, dando conta que os exames de controle de glicemia capilar e eletrocardiograma de Garotinho “não apresentaram nenhuma anormalidade” — ignorado pela ministra Luciana Lóssio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que naquele mesmo dia 18 permitiria a transferência do preso para um hospital particular da sua escolha —, me espantaram as mais de 30 mil curtidas recebidas pela postagem nas redes sociais.
Se volto hoje ao assunto, é porque ontem tive acesso à boa parte do relatório da Polícia Federal (PF), feito por um dos agentes que participaram da transferência, detalhando todos os seus bastidores, certamente mais reveladores do que a acuada entrevista que Garotinho depois concederia ao jornalista Roberto Cabrini, transmitida pelo SBT no último domingo.
Depois que as portas da ambulância se fecharam aos vídeos tão vistos e comentados, impressiona (ou não?) o fato de que Garotinho “relaxou e conversou como se nada tivesse acontecido”. Conheça abaixo alguns trechos esclarecedores:
“Houve várias tentativas, por parte de todos os interessados na permanência do preso no Hospital Souza Aguiar, de frustrar o serviço de escolta policial e remoção do preso, até que após muito conversar com os médicos, explicar sobre a gravidade que seria descumprir uma ordem judicial, eles se reuniram, fizeram mais alguns exames, mediram a pressão do preso novamente e confirmaram que estava tudo bem, além de terem recebido a confirmação de que para onde o preso estaria indo, seria local adequado para acabar o tratamento dele, acabaram por assinar a alta médica”
“Garotinho agrediu física e verbalmente os policiais, que tentaram removê-lo da cama do hospital para a maca e assim para a ambulância que o transferiria, com chutes e socos (…) em uma tentativa desesperada de evitar sua transferência (…) Em um determinado momento, Garotinho disse: ‘Vocês são uns merdas! É por isso que vocês são todos pobres!’”
“A senhora Rosinha e a filha Clarissa, por várias vezes falaram em voz alta para todos ouvirem que não colocariam a roupa no Anthony Garotinho, chegando a dizer para todos ouvirem: ‘NÃO VAMOS VESTI-LO! SE QUISER LEVAR, TEM QUE LEVAR SEM ROUPA’. Ao final, Rosinha entregou apenas uma cueca para que o preso vestisse, sendo a peça de roupa íntima colocada por sua filha Clarissa (…) Foi dada a oportunidade à esposa Rosinha Garotinho de dar o último abraço em seu marido a pedido dela, fato que demorou até demais, entre uma hora e uma hora e meia, foi dada a oportunidade para o médico, a seu pedido, de fazer um exame de última hora para ver pressão e ritmo cardíaco, fato que foi constatado que estava tudo ok”.
“A falta de respeito por parte de Garotinho e seus familiares fez com que uma simples condução de preso se tornasse um verdadeiro teatro para que ao final o Garotinho se tornasse vítima de tudo que acontecesse”.
“Logo no início do deslocamento, o preso, por conta própria, arrancou com violência o acesso venoso que estava em seu braço e houve um esguicho de sangue”
“(…) o preso Garotinho se acalmou e logo assim que as portas se fecharam, ele relaxou e conversou como se nada tivesse acontecido”.
“(…) denegriu a imagem da Polícia Federal, chamando a todos de pobres e mortos de fome e que era por essas atitudes que nós estávamos na merda. Por várias vezes ofendeu a pessoa do delegado (Paulo) Cassiano e do juiz Glaucenir (Oliveira), falando sobre a falta de caráter e perseguição pessoal contra sua pessoa”.
“Por várias vezes me pediu para atirar em seu peito, já que se eu não o matasse ele iria se suicidar dentro da prisão”.
“(…) já que mesmo que ele assumisse que cometeu crime eleitoral, o qual estava sendo imputado a sua pessoa, ele seria julgado, condenado e nem prisão sofreria”.
“Falou que se encontrasse Sérgio Cabral dentro da Penitenciária iria quebrar sua cara”.
Ainda que num artigo como este se pretende, a opinião seja o fim, ela aqui se torna desnecessária. Por motivos tão óbvios quanto a conhecida coragem física de Garotinho.
Publicado hoje (04) na Folha da Manhã
Abaixo o relatório da PF, com os destaques do blog: