Edição do Jornal O Diário, do último domingo, dia 29/03.
Poucos jornalistas desta Região enfrentaram tantos processos judiciais em função do ofício quanto este blogueiro. Foi uma luta árdua e solitária, sem a solidariedade de muitos colegas que hoje vestem a capa de defensores da liberdade de expressão exacerbada nas redes sociais. Só defendem liberdade em causa própria.
Escrevo sobre este tema em função da reportagem publicada na edição do último domingo do jornal O Diário, matutino de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, que gerou a imediata reação de uma pequena trupe local que pratica o que chama de ativismo virtual.
A maior reação foi do jornalista Ricardo André Vasconcelos, atualmente servidor concursado do INSS, que escreveu em seu blog um manifesto intitulado “Aula de (mau) jornalismo”. Que fofo!
Não são poucas as postagens dos ativistas virtuais que são complementadas com comentários virulentos sem a devida moderação dos responsáveis. Exemplo: acabo de ler um comentário em uma postagem de Vasconcelos no Facebook, em que o internauta identificado como Paulo HGG se refere ao Partido da República como “Partido da Roubalheira”, numa referência direta ao governo da prefeita Rosinha Garotinho.
Em um dos comentários da página do jornalista Ricardo André Vasconcelos, no Facebook, o Partido da República é “Partido da Roubalheira”. No bom jornalismo esta afirmação não é crime, desde que hajam provas para respaldar (clique sobre a imagem)
Observo que o mesmo internauta já afirmou em outros comentários, que a cidade de “Campos dos Goytacazes virou uma roubalheira”. Quero crer que existam provas documentais suficientes para corroborar tal afirmação. Seria uma aula de (bom) jornalismo, principalmente, por parte do moderador, até porque ele, juridicamente, se torna responsável.
Olhando de longe
Nos últimos anos optei por ampliar meus horizontes profissionais e me afastei da guerra verbal que assola esta planície. Foi uma forma de não ficar emocionalmente envolvido com o processo político local, já que fui secretário de um governo anterior e após a sucessão precisava oxigenar-me. Era preciso separar o ativista do jornalista. Observo tudo, já faz algum tempo, de longe e agora sou tentado a lançar mão da memória de mais de duas décadas de cobertura jornalística.
Lembro-me aqui de uma passagem do governo Sérgio Mendes, que teve o mesmo Ricardo André Vasconcelos como secretário de Comunicação. Incomodado por uma reportagem publicada na edição de um jornal local, o então prefeito vai à sede do matutino cobrar satisfações aos diretores. A parceria comercial entre veículo de comunicação e governo não permitiria, no entendimento da Corte palaciana, a estocada. Era, aos olhos do poder, uma afronta.
O então editor do matutino é chamado à sala da direção para uma acareação com o então prefeito. Irritadíssimo, Sérgio Mendes entra de sola: “Não me venha com desculpas, porque eu também sou jornalista”. O ex-prefeito, para quem não sabe, é formado no curso de comunicação da Faculdade de Filosofia de Campos, atualmente incorporada a Uniflu.
“Você é tão jornalista quanto sou prefeito”, retrucou o jornalista numa clara referência ao fato de Mendes nunca ter exercido o ofício. Tirada irrepreensível. O ex-prefeito era tão jornalista quanto um profissional diplomado em Medicina, que nunca exerceu ofício, mas que pode se apresentar como médico.
Mendes, repito, era assessorado por Ricardo André, que também foi secretário do governo Garotinho e herdou daquele período um ressentimento incontido.
Relembro os fatos para mostrar que mordaça sempre foi uma praxe na relação entre governos e veículos de comunicação. Em Campos dos Goytacazes, todos, indistintamente, pecaram neste quesito. Quando a mordaça não veio por meio dos tribunais ela chegou por meio das verbas oficiais. Quem foi governo e fala que foi diferente está, na verdade, interpretando a velha prostituta com hábito de madre superiora.
Estou muito a vontade para tocar nesta ferida. Nas minhas batalhas judiciais, entre os processos que enfrentei consta um da prefeita Rosinha Garotinho e do esposo Anthony Garotinho. Fui absolvido. Mas saibam que não lancei mão da vitimização e tão pouco fui contaminado pelo ressentimento. Sempre conheci a regra do jogo. Jornalista, blogueiro e internauta estão no direito de falar o que bem entenderem, mas precisam ter a compreensão de que aqueles que se sentirem ofendidos estarão no direito de buscar a justiça e pedir reparações por eventuais danos morais. Foi assim comigo em Quissamã, Macaé, Rio de Janeiro e todas as cidades nas quais precisei me defender. Nos casos em que cometi excessos, fui repreendido, devo dizer. Assimilei como lição.
O bom jornalismo precisa ter consciência dos riscos. Afinal, quem tem medo dos lobos não vai à floresta. Ou quem não sabe brincar, não vai ao parque de diversões.
Particularmente, não vejo nada demais na reportagem de O Diário. A gritaria, pelo que vejo, é decorrência da borduna do advogado Antônio Maurício Costa, que ao ser entrevistado na reportagem, reiterou que vai propor 200 ações judiciais contra o que considera crimes praticados contra seus clientes na rede social. Quem não agiu de forma criminosa, não tem o que temer. Basta contratar um bom advogado, reunir as provas e comparecer às audiências.
Só não venham me dizer que esse monte de candidatos caídos na eleição de 2012 com blogs e páginas nas redes sociais são ativistas ou jornalistas, porque não são! São pré-candidatos promovendo campanhas antecipadas.
Onde está bom jornalismo?
Nos últimos dias dois helicópteros da Polícia Federal aterrissaram no Porto do Açu, em São João da Barra. Levaram um ex-diretor da Mendes Júnior que atuava no Porto. Não me lembro de ter lido uma única linha sobre o assunto.
Uma das investigadas na Operação Lava Jato, que apura corrupção na Petrobras, é a empresa do grupo MPE, com forte atuação nesta Região. A única abordagem sobre este tema inconveniente foi aqui neste blog. Procura-se o bom jornalismo desesperadamente.