segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

GOVERNO ROSINHA ACABOU SEM COMEÇAR O DE RAFAEL

    

    A duas semanas de tomar posse como novo prefeito de Campos, eleito com 151.462 votos, Rafael Diniz (PPS) tem pela frente enormes dificuldades como consequência da drástica redução orçamentária — cerca de R$ 1 bilhão em comparação a este ano. Somado a isso, tenta driblar a má vontade, má-fé e armadilhas com que o governo que termina se comporta na pretensa transição.  Os derrotados na eleição de dois de outubro se habituaram de tal forma a misturar o público (nosso) com o (seu) privado, que é penoso ver o velório de um governo sendo prorrogado como se esperassem um novo Lázaro. Mas o corpo insepulto começa a exalar o inevitável mau cheiro.
       Nas Alagoas dos coronéis, conta o escritor e jornalista Mario Sergio Conti em seu clássico “Notícias do Planalto – A Imprensa e Fernando Collor” (1ª edição -1999- página 23) que, inconformado com a derrota, Silvestre Péricles, “em seu último ato como governador foi visitar a Cadeia Pública para garantir a soltura de cada preso que conseguisse defecar pelo menos um quilo. Dezenas de criminosos foram soltos. E dezenas de quilos de fezes espalhados pelas paredes, pisos e móveis do Palácio dos Martírios. Arnon e Leda [pais de Fernando Collor], traumatizados com a sujeira e a fedentina, só se mudaram para o palácio mais de um ano depois da posse”.
      Sem presos a lhe ceder o produto dos intestinos,  a prefeita ausente (está fora de Campos praticamente desde a sova eleitoral e para cuidar do marido doente-preso), tenta salvar a própria pele e a dos seus. Rafael Diniz e sua equipe não podem, e não devem, ficar reféns de uma espera inútil por dados de uma transição que não saiu do papel. Os derrotados agem com dolo evidente e chegam a apostar que o próximo governo vai durar menos que o de Carlos Alberto Campista, que acabou com 4 meses e 13 dias após a posse, em 2005. A ideia, assimilada com algum atraso pela jovem equipe do prefeito eleito seria judicializar a transição, levando ao Poder Judiciário questões como o descumprimento do artigo  80 da Lei Orgânica, que determina que o governo que se finda deve, até 60 dias antes da posse da nova administração, apresentar e publicar todas as informações necessárias ao planejamento da futura gestão. Bom exemplo disso foi a iniciativa do vereador eleito Claudio Andrade com sua ação popular que conseguiu liminar do juiz da 4ª Vara Civil, Eron Simas da Silva, para impedir a esdrúxula dação de imóveis de todos os campistas para cobrir o rombo da prefeita com o PREVICAMPOS.
   Como o comportamento dos derrotados não é surpresa, falta ao governo eleito mostrar a que veio, e já. Não é preciso esperar a posse solene, porque “o que conta mesmo não é o que existe e sim o que parece existir”, já disse alguém. Esse vácuo de poder— com Rosinha ausente e o marido-mentor desterrado num apartamento no Flamengo e, por ordem da Justiça, impedido de vir a Campos — deve ser ocupado com  debates, convites para a sociedade discutir os problemas deixados pelo governo que se vai e, principalmente com anúncio das primeiras medidas que serão tomadas, porque, afinal, 151.462 eleitores não escolheram um prefeito para lamentar que inviabilizaram a cidade e sim para enfrentar e resolver os problemas deixados.
  O governo Rosinha Garotinho foi derrotado no dia dois de outubro, mas acabou no dia em que Garotinho (o prefeito de fato) foi preso acusado de compra de votos. O que se arrasta de lá até o próximo dia 31 é uma tentativa desesperada para apagar vestígios de maus feitos e criar dificuldades ao sucessor. Nada que uma boa e independente auditoria e ações judiciais pontuais não resolvam. E falta de recursos deve ser o combustível da criatividade. Por exemplo: alguém já sabe qual é a demanda reprimida por serviços de saúde no município? É possível (claro que é!) juntar hospitais conveniados, entidades representativas de médicos, Faculdade de Medicina e Prefeitura num mutirão para consultas, exames e até cirurgias. A medida, além de prática, humanitária, teria o caráter educativo de que é possível fazer diferente.
Afinal não foi este o mote da campanha que convenceu os campistas?

Ricardo André Vasconcelos

Jornalista

(artigo publicado na Folha da Manhã de domingo, 18/12/2016)

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