Foto de dezembro de 2010, antes de ser fechado para mais uma reforma. |
Carta do Teatro de Bolso à Prefeita Rosinha,
Dona Rosinha, não sei se a senhora ainda lembra de mim. Sou o Teatro
de Bolso, local onde a senhora e teu marido pisaram muitas vezes. Sou o
irmão mais velho, porém mais pobre do teu preferido, o Trianon. Estou te
escrevendo esta carta, pois não aguento mais minha orfandade.
Prometeram uma reforma para mim que até hoje não aconteceu. Não sinto
nenhum pedreiro a martelar-me os ossos, nem cimento e madeira a
sedimentar o chão e as paredes do meu peito. Os senhores grisalhos que
te assessoram na cultura dizem que não tem público, que não tem demanda,
mas vejo meus irmão de criação SESC e SESI com peças teatrais quase
todo fim de semana e morro de inveja deles. Dois amigos teus das
“antigas” disseram certa vez que quando estivessem no poder me
devolveriam para os artistas. Lá se vão cinco anos…ou mais. Queria
voltar a ter minha fachada com propaganda de espetáculos, queria que os
artistas da cidade me tivessem para ensaios e apresentações ao longo do
ano. Sinto que 2014 passará sem que nenhuma peça se acenda sob a luz de
meus refletores. A minha pergunta é uma só: por que não estão me
reformando como prometeram? Os gestores da cultura ignoram o que se
passa além das paredes dos gabinetes e da Fundação Cultural Jornalista
Oswaldo Lima. Saem por aí falando do que não conhecem. São incapazes de
prestigiar qualquer espetáculo que não seja de “fora” ou organizado por
eles. Esse péssimo vício provinciano de autoestima baixa. Que fiquem em
seus gabinetes então. Eu só queria não ficar mais tão solitário. Todo
final de semana tomo tarja preta para dormir. Olho o Paraíba à minha
frente e tenho inveja dele também, pois mesmo poluído, cumpre sua função
de rio. Eu tenho perdido as esperanças de cumprir meu papel de teatro.
Se a senhora ainda guarda boas lembranças de teu tempo de palco, não
deixe que meu teto desabe como ocorreu com aquele museu da Rua do Gás.
Aguardo ansioso por minha reforma. Dê lembrança a todos de tua família.
Teatro de Bolso Procópio Ferreira
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