sábado, 12 de novembro de 2016

ACEITA, GAROTINHO, QUE DÓI MENOS

  

  A reação de Garotinho à derrota que sofreu nas urnas deixou de ser patética, passou por ridícula e já beira a insanidade. A um político com tantas vitórias eleitorais no currículo não fica bem resistir tanto a uma derrota de percurso, sob pena de a auto-humilhação hipertrofiar ainda mais a sova histórica. Ainda não entendeu que ao político é dado morrer várias vezes?
    O desespero talvez resida no espelho: Garotinho está vendo um jovem idealista como ele era em 1988 chegar ao poder derrubando uma oligarquia carcomida, capitaneada por usineiros, e se que revezava no poder via intermediários;  a que caiu no último dois de outubro era um arremedo de monarquia que sequestrou uma cidade inteira para condená-la a ser governada por uma família, uma grife política. Nenhuma das duas deixa saudade.
    Há diferenças históricas. O Garotinho, então com 28 anos, derrotou o avô do prefeito recém-eleito, vicejou num país recém redemocratizado,com uma nova Constituição que, além de cidadã, mudou as formas de repassar recursos, beneficiando, e muito, os municípios. Somado a isso, era o início da era das vacas gordas com a chegada dos  royalties do petróleo. Um cenário em que tudo que se fizesse no novo governo ganhava ares de revolucionário: creches (só existiam duas); reabertura do Pronto Socorro; programação de verão na praia, antes restrita a um campeonato de futebol de areia, além de fomentar sonhos — especialidade de Garotinho — como a construção do novo Trianon, que mobilizou, por anos, a cidade toda.
      Rafael Paes Barbosa Diniz Nogueira,33 anos, vai assumir uma cidade diferente e com desafios maiores. Os usineiros faliram e Campos não só tem poucos recursos, é uma cidade falida. A arrecadação dos royalties foi comprometida pelos próximos 30 anos por conta de empréstimos que o atual governo fez e com um cenário de compromissos (custeio da máquina administrativa e demanda por serviços) incompatível com a capacidade financeira dos cofres municipais. O orçamento municipal que chegou a R$ 2,7 bilhões em 2014, tem previsão de apenas R$ 1,5 bilhão no próximo ano. E o cenário nacional, ao contrário de três décadas atrás, é de estagnação com viés de recessão para os próximos anos. Revolucionário agora será tirar leite das pedras que restaram.
     Pelo que se viu, a cidade tem muito mais com o que se preocupar do que com o chororô de Garotinho na rádio que apoia seu grupo político. Suspeitar do resultado da eleição e chamar o novo prefeito de “interinamente eleito” é absoluta falta de senso: Rafael teve 151.462 votos (55.19%) contra 81.989 (29.88%) recebidos pelo primo de Garotinho, Chicão Oliveira, que há oito anos é o vice-prefeito da mulher de Garotinho. E pelos planos familiares, Chicão deveria ser eleito para guardar a cadeira para o filho de Garotinho em 2020. A menos que seja uma tática diversionista para preparar terreno para o que vem pela frente, esse chororô merece tanta atenção quanto àquela greve de fome de araque.
     O que pode, e deve, assustar, é até onde vão chegar as investigações da Justiça Eleitoral, Ministério Público Eleitoral e Polícia Federal sobre a utilização do programa cheque-cidadão municipal nas eleições. Vereadores reeleitos pela coligação que apoia o atual governo fora, presos e já estão sendo julgados; testemunhas teriam citado o nome de Garotinho em seus depoimentos na PF e a expectativa é que o próprio seja chamado a depor nos próximos dias. O depoimento de Garotinho na PF é iminente e natural, afinal, é ele quem governa, de fato, a Prefeitura de Campos. Além disso, o ex-governador repetiu neste sábado, dia 12, que há uma conspiração entre o Ministério Público e a Polícia Federal para prendê-lo a fim de tirá-lo de circulação e o objetivo seria esconder a fraude eleitoral que teria resultado na derrota de seu primo-pupilo-candidato. O delírio é tanto que chegou ao absurdo de anunciar eleições em Campos e marcá-las para fevereiro de 2017. É urgente que mostre às  autoridades as provas que jura ter para que a insegurança jurídica não se instale.
  Em sua cantilena entediante, o inconformismo de Garotinho não reverbera nem entre seus seguidores mais cegos, tal a fragilidade dos argumentos e fantasia dos “fatos”. Deve ser porque a insanidade é que o levou ao espetáculo ridículo e o chororô patético.

Faz como Obama, Garotinho, aceita que dói menos. 
(Ricardo André Vasconcelos)

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