domingo, 12 de novembro de 2017

DE VOLTA AO PASSADO


Publicado no Blog Opiniões(aqui) em 27/09/2017 

 Kennedy e Khrushchov evitaram a guerra em 1962 e em nada lembram Trump e Kim Jong-un

“É preciso dar um basta a essa maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é paz”.
Homilia de D. Hélder Câmara, na Missa dos Quilombos (disco gravado em 1982 por Milton Nascimento e os bispos D. Hélder Câmara e D. Pedro Casaldáliga).

Talvez desde a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, naqueles 13 dias que abalaram o mundo em outubro de 1962, o Planeta nunca tenha flertado tanto com o apocalipse como nestas últimas semanas. Diferente de meio século atrás, dois idiotas convictos têm o poder de apertar os botões e iniciar a guerra do fim do mundo. De um lado, o ditador Kim Jong-Un, terceiro de uma dinastia bélica, afronta o mundo civilizado com armas nucleares apontadas para o Japão e, garantem, com poder de fogo para atingir os Estados Unidos. Na outra ponta da insana disputa, o líder da nação mais poderosa da Terra, Donald Trump, com a sutileza de um elefante em casa de louças, tuíta ameaças de destruição total — “fogo e fúria” contra a Coreia do Norte.
“É melhor que a Coreia do Norte não faça mais ameaças aos Estados Unidos. Enfrentarão fogo e fúria como o mundo nunca viu”, declarou Trump em seu clube de golfe em Bedminster, Nova Jersey, onde passava férias há duas semanas. “Agora, Trump insultou a mim e ao meu país diante dos olhos do mundo e fez a mais feroz declaração de guerra da história, de que ele destruiria a República da Coreia do Norte”, completou Kim, retribuindo as ameaças na sequência. “Definitivamente, domarei com fogo esse americano senil mentalmente perturbado”, afirmou Kim Jong-un.
Em nada lembram os estadistas Jonh Kennedy e Nikita Khrushchov, que evitaram em 1962, a guerra numa delicada operação diplomática em que os instintos de sobrevivência dos dois líderes mundiais falaram mais alto. O filme “Treze Dias que Abalaram o Mundo”, de Roger Donalson (2000), retratam como esses dois homens evitaram o primeiro disparo porque sabiam quem depois de iniciada seria praticamente impossível impedir a destruição total.
Naquele cenário de guerra fria resumida às duas grandes potências que dividiram o mundo em dois ao final da Segunda Guerra (1939-1945), apenas elas, União Soviética e Estados Unidos eram potências nucleares. Atualmente o cenário é mais grave porque os conflitos são pulverizados por diversas áreas do Planeta e uma dezena de nações tem armas nucleares, incluindo a Coreia do Norte e outros países tão instáveis quanto, como Paquistão, Índia, além das potências econômicas, China, Reino Unido, França, Rússia, Israel e Estados Unidos. No Irã dos aiatolás há suspeitas não confirmadas, ainda.
Ao longo da história, as guerras entre os povos foram justificadas com argumentos econômicos e expansionistas em um mundo ainda em construção. Conquistadores — heróis-bandidos — movidos pela ambição de ampliar territórios e impor sua cultura, como Alexandre, Júlio César, Gengis Khan, Napoleão, Hitler ou Stálin estariam confinados aos livros de história com os ares pacifistas que respiramos a partir dos anos finais do século XX. Os acordos de não proliferação das armas nucleares e a desmobilização de arsenais atômicos na Ásia, Europa e mesmo nos Estados Unidos, autorizavam-nos a sonhar com um mundo futuramente livre da ameaça de destruição. Ledo engano.
Como a morte que espreita o homem desde o berço, o espectro da autodestruição paira sobre nossas cabeças. De novo estamos de volta ao passado!

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