Publicado no Blog Opiniões em 08/11/207 (aqui):
Luislinda Volois, ministra dos Direitos Humanos |
Só mesmo um governo que tem índice de aprovação do mesmo nível de margem de erro pode ignorar deslizes, desvios e outras traquinagens de seus ministros sem sequer uma leve admoestação de quem quer que seja. Simplesmente porque não há quem tenha autoridade moral para tal. O exemplo começa com o Chefe do Governo, que comprou o restinho de mandato por algo em torno de R$ 20 bilhões em emendas, cargos e outras benesses inconfessáveis e tornou-se refém de uma base aliada que representa a mais fina flor do fisiologismo pluripartidário. Alguém já disse, com propriedade, que não é o presidente que tem uma base, é a base que é “dona” de um presidente. Denunciado pela Procuradoria Geral da República, duas vezes, por corrupção passiva e organização criminosa, o presidente da República conseguiu a proeza de arquivar as denúncias com o apoio de 263 e 251 votos, respectivamente.
O presidente com o maior índice de rejeição entre os líderes mundiais tem mais da metade do ministério investigado, citado ou delatado na Operação lava Jato, incluindo seus mais íntimos — Moreira Franco e Eliseu Padilha — parceiros na quadrilha da denúncia da PGR e momentaneamente arquivada pelos deputados. A partir de 01 de janeiro de 2019 os três serão processados como cidadãos, se estiverem ao desabrigo da sombra benfazeja do foro privilegiado. Outros dois — Geddel Vieira Lima e Eduardo Cunha — já amargam cadeia. Geddel, aliás, foi ministro também no governo Lula e vice-presidente da Caixa na administração Dilma, mas com Temer, integrou o núcleo central do governo.
No último final de semana um escândalo internacional chamado de “paradise papers” envolveu os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Blairo Maggi (Agricultura) com fortunas depositadas em paraísos fiscais.
Só num ministério com essa folha corrida, figuras como Torquato Jardim e Luslinda Valois protagonizariam situações graves sem sequer serem investigados, enquanto deveriam gerar crises e até demissões. A declaração de Torquato, de que há uma sociedade entre deputados estaduais, comandos da PM e o crime organizado no Rio de Janeiro seria plenamente aceitável se não fosse a autoridade máxima da segurança, pois é o ministro da Justiça e Segurança Pública. Se tem provas do que disse deve mostrá-las à sociedade, se não tem, entregue o cargo. O que não pode é dizer que emitiu uma “opinião pessoal”, porque afinal não disse o que disse em conversa privada e sim para um grupo de jornalistas que o entrevistava.
Dona Luslinda, desembargadora aposentada pelo Tribunal de Justiça da Bahia, com seu currículo que honra a história das mulheres, dos negros e da magistratura, caiu na asneira de pedir aumento de salário. Queria receber, além dos R$ 33,4 mil de seus proventos da aposentadoria, outros R$ 37 como ministra de Estado dos Direitos Humanos. Se justo for o pleito, o argumento beirou ao patético: quem ganha R$ 33,4 mil por mês se considerar escrava? Alegou que o salário não é suficiente para maquiagem, perfume, porque, afinal, como aposentada pode andar de chinelo, mas como ministra não.
A favor de si Dona Luslinda, um dos quatro nomes do PSDB no governo, tem a opção de calçar seu chinelinho e voltar para Salvador e gozar a merecida aposentadoria, enquanto para a maioria dos seus colegas — incluindo o chefe —, o risco é ir para o xilindró.
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