domingo, 19 de agosto de 2007

Fim de domingo trágico

Fim do meu plantão na Editoria do Monitor foi esticado neste domingo com mais uma tragédia na BR -101, perto de Conselheiro Josino. Um casal de irmãos morreu e um bebê de dois meses está em estado grave no Hospital Ferreira Machado. Na véspera, uma senhora de 80 anos foi atropelada na mesma BR-101 (em Travessão), onde um motociclista morrera horas antes.

Sobre a BR assassina, publiquei, no Monitor Campista, em janeiro de 2005 o artigo abaixo, do qual, não retiro uma linha. Ao contrário, se pudesse, acrescentaria ainda mais indignação:




Os políticos e os cadáveres de Morro do Coco

Ricardo André Vasconcelos
(Jornalista)
ricardoandre@censanet.com.br

As vítimas: Heraldo Ribeiro Arruda, 62; Gilson de
Oliveira Estevão, 27; Denilson de Oliveira Estevão, 20;Jorge Gomes da Silva, 33, Joci
Azeredo, 53 e Amaro Rodrigues dos Santos, 46.


Mais seis trabalhadores perderam suas vidas esta semana, vítimas de acidente na BR-101, nas proximidades de Morro do Coco. Resumida assim, a notícia, que foi a principal manchete dos jornais da cidade na última quarta-feira, soa como mais uma fatalidade para os que trafegam por este trecho da principal rodovia do país. Mas não dá mais para creditar ao fatalismo o custo de nossa omissão. Nossa porque não há quem não tenha um amigo, um parente ou um vizinho que perdeu a vida para esta estrada assassina. Nossa porque é o nosso voto que mantém os políticos que administram o Município, o Estado e a União.
Os acidentes não são eventuais, são contumazes. Qualquer um que mora neste infeliz pedaço da região Sudeste sabe que a maioria dos acidentes ocorre em determinadas curvas localizadas no Brejo da Severina, Caxeta, Ibitioca e Morro do Coco. Por que então ninguém se dispõe a intervir com sinalização, iluminação ou mesmo correção no traçado da estrada? A resposta só pode ser omissão, desprezo pela vida alheia e excesso de confiança na infinita bondade do eleitor.
E não venham com essa conversa de falta de recursos e nem de transferência de responsabilidades. Às famílias dos seis trabalhadores mortos não interessa se a estrada é federal, estadual ou municipal. Os defuntos não têm jurisdição. Não há mocinhos nessa história apesar de os políticos tentarem transferir para outras instâncias a culpa pela qual não têm nem mesmo a coragem de assumir. Os cadáveres dos trabalhadores de Morro do Coco e outras tantas vidas ceifadas e mutiladas na BR-101devem pesar sobre as costas de todos os detentores de cargos eletivos nas últimas décadas.
Culpa dos deputados federais que se acham isentos de culpa com a fictícia inclusão de verbas nos orçamentos da União para obras que nunca foram feitas. Para se ter uma idéia da dimensão do descalabro, ninguém conseguiu impedir o sucateamento do órgão responsável pela manutenção da BR, o antigo DNER (atual Denit), que — acredite quem quiser — tem apenas um engenheiro e uma secretaria para cuidar de quase 300 km das BRs 101 e 356. É um desaforo!
Culpa dos governantes estaduais que, diante da omissão do Governo Federal, se acomodaram na cômoda transferência dos defuntos para a alçada da União. Na mesma edição em que noticiou a tragédia dos trabalhadores de Morro do Coco, o Monitor anunciava que o Governo do Estado embolsou, só no ano passado, nada menos que R$ 2,3 bilhões de royalties do petróleo. Uma pequena parte desses recursos poderia ter sido utilizada para amenizar os perigos da “rodovia da morte”. E há precedentes: O então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, fez isso com a malha rodoviária mineira e depois cobrou os gastos do Governo Federal e recebeu. No Estado do Rio faltou interesse e zelo pela vida humana.
Culpa também dos últimos governantes municipais que se limitaram ao lamento protocolar e a comprar ambulâncias para resgatar vítimas e corpos. A Prefeitura de Campos, que em 2003 recebeu R$ 418 milhões só de royalties, teve e tem dinheiro e poder de articulação para se consorciar com outros municípios cortados pela rodovia a fim de suprir a indiferença do Estado e da União com obras que tornem a estrada mais segura. No entanto optou igualmente por ignorar o drama.
Chega de omissão, chega de jogo-de-empurra, chega de empulhação, chega de mortes.

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