domingo, 11 de agosto de 2013

ENTRE LAUDAS E ROTATIVAS A SAUDADE DE BARBOSÃO




Ao mestre, com carinho…

Conheci Seu Aluysio Barbosa no início dos anos de 1990. Tinha sido incumbido pelo então editor do Monitor Campista, Hélio Cordeiro, o Helinho, para repercutir pauta sobre o Dia da Imprensa, ou Dia do Jornalista, com diretores ou representantes dos outros jornais coirmãos. Sinceramente, não me lembro bem se era um ou outro assunto. Mas a recepção que tive quando cheguei à Folha da Manhã para entrevistá-lo continua bem viva na memória. Depois de me identificar na portaria, me indicaram uma sala para falar com o diretor do jornal. Repórter inexperiente, por um instante fiquei inseguro sobre o que perguntar a um profissional como ele. Não precisava. Sentado numa cadeira tendo à frente uma pequena mesa e uma máquina de escrever — de cor preta, se não me falha a memória —, mandou que eu me sentasse e me deixou muito à vontade para perguntar o que quisesse. A apuração foi feita e em nenhum momento me senti desconfortável como entrevistador. Me recebeu como um colega de trabalho. Nunca esqueci.
Passaram-se alguns anos, até que fui convidado pelo diretor de redação, seu filho, Aluysio Abreu Barbosa, para integrar a equipe do jornal. Lembro-me de que, quando Seu Aluysio me viu na redação, veio em minha direção meio que para que dar as boas vindas, iniciando um breve bate-papo, desses que quase nunca temos tempo dentro do que se permite num turbilhão que é nosso inquieto ambiente de trabalho. Na ocasião, o filho, Aluysio, acabara de adentrar na redação e não sabia que já nos conhecíamos. “De onde você conhece papai?”, chegou a perguntar, também entrando na breve conversa informal. Coisas que a gente guarda de momentos como esse, bacana, em relações que se afinam, apesar da diferença de idade e, de largo, de experiência de profissão. E também de vida.
Seu Aluysio estava — e está — sempre presente na redação. E tinha suas tiradas. Em outra ocasião, já como chefe de Reportagem, fiz uma brincadeira com conotação machista — se não me engano, algo em torno da primeira mulher a assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie —, apenas para “implicar” com a saudosa jornalista e colunista social Ângela Bastos, que tinha um tino para a notícia como poucos que conheci na minha vida profissional. Fiz a brincadeira e saí da redação antes de ouvir a queridíssima Ângela reagir em voz alta à piada. E esperei no corredor, pouco antes da porta de entrada, até que Ângela terminasse a “bronca”, lógico, sempre com a mesma forma carinhosa que ela também tinha com a gente. Ao sair da redação, meio que aprovando a “provocação”, Seu Aluysio não perdeu tempo: “Tá vendo, você provoca, sai da redação e depois reclama?”. E seguiu, rindo, pela escada.
Quando eu estava de saída da Folha para retornar e assumir a editoria do Monitor Campista, ficou quase um mês sem trocar uma palavra comigo. Até que, no último dia no trabalho, num sábado pela manhã, veio em minha direção: “Aqui, faz uma notinha para o Ponto Final, como despedida”. Foi a forma carinhosa de expressar sua insatisfação com a minha saída do jornal, à época. Outra característica que dispensa comentários, mas que vou comentar assim mesmo, e que, admito, passei a conhecer com maior profundidade quando retornei à casa, há pouco mais de três anos: os textos de Seu Aluysio eram fortes, firmes, mas nunca grosseiros. Quando queria colocar o dedo na ferida de algum assunto, o fazia com uma elegância de poucos.
Enfim, outras situações poderiam ser narradas aqui neste espaço sobre momentos de convivência dentro da redação, que ficou órfã há um ano, quando Seu Aluysio passou para um outro plano. Então, melhor é encerrar esta lauda. Até porque, é bem provável que só quem ainda sabe o que é uma lauda possa entender com mais profundidade esse texto. Seguem as rotativas…
(artigo publicado na edição impressa da Folha da Manhã neste domingo, 11 de agosto)

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