sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Adeus ao poeta 1

Eu era muito novo quando conheci Antônio Roberto.
Meu primeiro contato com ele foi através do poema "Palavras ao Cadáver" que ele escreveu em seu primeiro ano de estudante de Medicina.
Nossas famílias viviam (e vivem) no mesmo Bairro do Caju e, como amigo de seus irmãos mais moços, Fernando e Guilherme Leite, muitas e muitas vezes fui com eles a São Fidélis para serestas e saraus promovidos por Antônio Roberto e, nos quais eu sempre pedia para que recitasse o poema "Manacá", um dos mais belos de sua produção e que descreve a infância quase mítica Barro Branco.
Foram muitas as noites em que saíamos de Campos, um grupo de 10, 12 pessoas, em dois, três carros para ir a São Fidélis comer a canjiquinha do Orlando e passar pela casa do poeta para ouvir músicas e poesias. As filhas, Raquel e Luciana ainda era crianças de colo.
Me admirava a voz mansa daquele homem precocemente de cabelos brancos, funcionário de carreira do Banco do Brasil que cursou Medicina mas nunca exerceu a profissão e que até fazia filmes em Super-8. Isso era nos 70/80.
Já neste século, minha lembrança de Antônio Roberto era a dos Cafés Literários que implantou em sua gestão na direção da Biblioteca Nilo Peçanha e das deliciosas rabanadas que levava, quase semanalmente, à Redação do Monitor Campista.
Era um provocador cultural no sentido mais conciliador da palavra "provocador". Foi um agitador cultural manso, doce e que nunca teve vergonha de ser poeta. Pelo contrário. Difícil era ver Antônio Roberto em situação em que não sacasse da memória poesia sua ou de outro para, mansamente, despertar na platéia uma emoção simples, terna, doce, como o próprio poeta.
Densanse em paz, Antônio Roberto!

3 comentários:

walnize carvalho disse...

CAro Ricardo André,
A sua crônica acima è a cara do Poeta: simples e lírica como um poema.
Walnize Carvalho

Anônimo disse...

Esse seu poema ao cadáver é de extrema beleza.A poesia com a qual Antônio Roberto segura a importância do corpo anônimo emprestando aos acadêmicos um lugar especial de aprendizado, é coisa muito linda. Se vc tiver em mãos o texto, sugiro, Ricardo André, uma transcrição porque vale a pena. Nosso poeta era homem simples, de olhar instantâneo e de verdades nunca esquecidas.

Quasepoesia disse...

A morte do poeta
Ao poeta Antonio Roberto Fernandes, falecido nas primeiras horas de hoje...

Não diga "morte" quando o poeta parte,
Posto que quando parte não se acaba
Mas dignifica a vida com sua arte,
Fazendo brotar vida da palavra...

Posto que a morte é apenas uma parte
Por meio da qual toda a vida se alinhava,
Resume tudo, como um estandarte
Bem logo quando ninguém imaginava...

Não diga "morte", portanto... Diga um verso...
O poeta não morreu... Está disperso
Inundando todos nós com os versos seus...

Não diga "morte"... Mas "Até um dia
Quando conversaremos em poesia"...
Diga ao poeta: "Fica com Deus"...