Gerson Gonçalo
São quase duzentos anos de história contados em 273 edições do jornal
“Se a felicidade absoluta não foi possível, já que seria o não
fechamento da empresa Monitor Campista, pelo menos um alento de ter o
rico acervo de volta”. A frase foi dita pelo fotógrafo Wellington
Cordeiro que, ao lado do presidente da Câmara Municipal de Campos, Edson
Batista, e o diretor de Multimídia da Casa de Leis, Wilson
Heindenfelder, acompanhou a chegada do acervo do terceiro jornal mais
antigo do país, Monitor Campista, em sua volta para casa, fato este
ocorrido na tarde desta terça-feira (15/04).
São 273 edições que
temporariamente vão ficar abrigadas em uma sala da Câmara preparada
especialmente para receber o Memorial Monitor Campista, que será
apresentado às autoridades do município, jornalistas e representantes de
movimentos sociais nesta quarta-feira (16/04), às 17h, ao som da banda
da Polícia Militar e da Orquestrando a Vida. No Memorial ficará exposto o
acervo do jornal, peças como a primeira máquina impressora (prelo), um
prelo de rolo e uma máquina de escrever e imagens fotográficas doadas
pelo Museu Barbosa Guerra, do arquivo pessoal de Wellington Cordeiro e
do historiador e ex-funcionário do Monitor Campista, Hélvio Cordeiro.

“Na
exposição estaremos apresentando o Monitor Campista, através do próprio
Monitor já que conseguimos recuperar todos os cadernos especiais do
jornal, inclusive os editados a partir de 2007 a 2009, que contam a
história de 173, 174 e 175 anos do jornal”, disse Wellington, que é o
curador da exposição do Memorial.

O
destino do acervo do Monitor Campista será o Arquivo Público Municipal,
que fica na Baixada Campista, porém o local precisa atender a algumas
questões técnicas apontadas em um relatório feito durante visita técnica
feita pela superintendente de Assuntos Corporativos do Diários
Associados, Vânia Caldas, e o funcionário do arquivo do Diários
Associados do Rio, Pedro Moreira, no dia 25 de março. O Diários
Associados ao receber o acervo teve que assinar um Termo de Ajustamento
de Conduta (TAC) onde se comprometeu em cuidar e comunicar ao Ministério
Público do Rio de Janeiro (MPRJ) em caso de venda ou doação.

“Já
que tinham a guarda do acervo, eles vieram verificar as condições do
local onde o iria ficar. No relatório Vânia apontava que, apesar da
importância histórica do prédio [Arquivo Público], naquele momento, o
ambiente onde ia ficar o acervo não estava climatizado adequadamente,
que havia problema com umidade, equipamento de combate a incêndio e
parte hidráulica”, explicou Wilson Heindenfelder acrescentando que
diante a impossibilidade do acervo ser encaminhado para o Arquivo
Público, foi apresentada à equipe do Diários Associados as dependências
da Câmara Municipal e acertado que o material ficaria ali
temporariamente.

Wilson
revelou ainda que trazer o acervo para Campos foi uma corrida contra o
tempo. “O acervo estava pronto para ser doado à Biblioteca Nacional, e
estava pronto para ir pra lá, mas a nossa sorte é que a biblioteca
demorou para dar um parecer e, então o acervo foi retirado da listagem
do Diários Associados e nos foi doado por Maurício Dinepi. Aqui não é o
local ideal para ele. O ideal é ir para o Arquivo Público, que é onde
está toda história do município, mas para não perdermos, o colocamos
aqui”, ressaltou Wilson.
O tempo em que o acervo do Monitor
Campista permanecer na Câmara Municipal, ele vai passar por um trabalho
de higienização, recuperação, microfilmagem e digitalização.

“São
180 anos de história, cujo primeiro registro é datado de 1834. Aqui
temos registros de fatos como Estado Novo de Getulio Vargas e tantos
outros importantes para nossa história. É muito importante poder dar
esse presente para a população”, disse Edson Batista, acrescentando
ainda: “Já estamos entrando em contato com a Biblioteca Nacional, pois
ficaram de fazer um trabalho de higienização, recuperação, digitalização
e microfilmagem do arquivo e vamos fazer isso aos poucos, pois o custo é
muito alto e sozinha a Câmara não tem como arcar, mas vamos buscar
parcerias que possibilitem o trabalho”, completou o presidente da
Câmara.

Quando
questionado sobre a importância do retorno do acervo do Monitor para
Campos, Wellington Cordeiro disse que: “Tirando a questão emocional que
quando soube que o caminhão tinha chegado e corri pra cá, pois queria
ter certeza isso realmente tava acontecendo, o que era o grande sonho da
gente, principalmente quem trabalhou lá, por outro lado dá uma
satisfação de estar reparando um grande erro. Desde quando foi fechado
em 2009, imediatamente lançamos a campanha Viva Monitor, fizemos duas
manifestações na cidade, mas infelizmente não tivemos a força suficiente
para reparar essa perda para cidade e agora com a adesão da Câmara
nessa luta, juntos conseguimos trazer o acervo e não só isso, mas
garantir que ele seja cuidado da maneira correta, principalmente com a
promessa da Câmara de fazer um trabalho de digitalização de todos os
jornais. Isso é muito importante para que o acesso chegue a todos
arquivos, pois o jornal não dá já que são páginas de quase duzentos
anos, são muito frágeis. A digitalização vai permitir um acesso
ilimitado, talvez até mais tarde no próprio site da Câmara”, finalizou.
A
última edição do jornal Monitor Campista, que desde sua criação teve
outros quatro nomes "O Campista", "Recopilador Campista", "Novo
Recopilador Campista" e "O Monitor Campista", motivo este que leva muito
especialistas a contestar seus 175 anos de existência, foi em 15 de
novembro de 2009. A redação do Monitor Campista foi a primeira a ser
beneficiada com a luz elétrica, em 24 de junho de 1883, antes das
empresas do Brasil e da América do Sul.
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