Da Folha on line (aqui):
Um filme antes do voto
O ciclo “Eleições”, que leva filme sobre disputas políticas às telas do Cineclube Goitacá, chega, nesta quarta-feira (1º), a partir das 19h, ao seu segundo momento, com a exibição de “Bob Roberts” (Idem, 1992). O longa-metragem, escrito, dirigido e estrelado pelo por Tim Robins, será apresentado pelo jornalista Aluysio Abreu Barbosa, que conduzirá o bate-papo posterior à sessão. O Cineclube funciona na sede do Oráculo Produções, na sala 507 do edifício Medical Center. A entrada é gratuita e a oportunidade de debate, rara, pois o primeiro turno do pleito que escolherá o presidente e vice-presidente da República, deputados federais, senadores, governadores e vice-governadores e deputados estaduais que guiarão a política nacional pelos próximos anos acontece já no próximo domingo (5).
Em “Bob Roberts”, Robins concebe, conduz e representa a trajetória de um astro da música folk com ares de Bob Dylan que se envereda pela política, construindo uma carreira baseada em contradições e hipocrisia. Pleiteando uma vaga no senado pelo estado da Pensilvânia, Roberts se apresenta como um republicano reacionário, que concorre com o democrata Brickley Paiste (Gore Vidal). Ignorando denúncias de sua relação com o tráfico de drogas, Roberts apóia sua campanha na investida contra os entorpecentes e se vale de recursos tecnológicos e mentiras para atacar Paiste. No elenco, além de Robins e Vidal, estão, ainda, Alan Rickman, Giancarlo Esposito, Ray Wise, Brian Murray, David Strathairn e James Spader.
— O fato de Robins exercer os papéis de diretor, roteirista e protagonista e de retratar um homem que mistura política, mídia e religião levou a uma comparação entre Robins e Orson Welles e seu “Cidadão Kane”. Há, inclusive, uma espécie de Rosebud ao fim do longa, um detalhe pouco evidenciado, mas sem o qual a audiência torna-se incapaz de entender realmente o trabalho — diz o jornalista, resguardando a importância maior da obra-prima do cineasta que mudou a forma como o cinema era feito, e acrescentando que o filme foi “premonitório”: — O longa foi realizado antes da eleição de George W. Bush, que, com uma mistura nefasta de retórica política e religiosa, lançou os Estados Unidos em duas guerras, contra o Iraque e o Afeganistão, e uma crise econômica global, contra cujas conseqüências o Brasil está lutando até o presente momento.
“Bob Roberts” surgiu para dar forma à decepção de Robins com os governos de presidentes conservadores, como Ronald Reagan e George Bush, marcando sua estreia na cadeira de diretor. O personagem Bob Roberts, porém, surgiu seis anos antes do longa, em um esquete apresentado pelo ator no humorístico Saturday Night Live em dezembro de 1986.
Um mockumentary, estilo de filme que apresenta acontecimentos fictícios em tom de documentário, “Bob Roberts” foi indicado ao Globo de Ouro na categoria Melhor Ator de Comédia/Musical, para Tim Robbins, e recebeu os prêmios PFS, da Political Film Society, na categoria Democracia, Georges Delerue, no Festival Internacional de Cinema de Flandres, na Bélgica.
Com impressionantes 100% de aprovação no agregador de críticas Rotten Tomatoes, “Bob Roberts” esteve na disputa por uma vaga na lista “100 Years... 100 Laughs”, do American Film Institute, que elencou os filmes mais engraçados de Hollywood.
M.C.
Foto: Rodrigo Silveira
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