A aposta no papel histórico de Dilma

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(Quando Dilma se reencontrará com a jovem Dilma?)
Este ano, mais uma vez, brasileiros de esquerda, militantes ou não de partidos políticos, eleitores históricos do PT, farão a aposta em Dilma Rousseff nas eleições. Decepcionados com os últimos quatro anos, votarão de novo em Dilma não pelo que fez, mas com a esperança de que, reeleita, cumpra o seu papel histórico como mulher, ativista de direitos humanos e participante ativa da luta contra a ditadura militar.
Estamos assistindo atônitos ao avanço dos fundamentalistas religiosos e do conservadorismo em geral em nosso País. Em seus primeiros anos no poder, a ex-guerrilheira não se mostrou valente ao ponto de enfrentá-los, sob a desculpa de garantir a “governabilidade”. Se for reeleita, Dilma precisa retomar a agenda progressista o quanto antes. Abandoná-la foi um erro que, isto sim, quase lhe custou a governabilidade. Ou alguém duvida que as manifestações de junho de 2013 começaram graças à insatisfação da própria esquerda com o PT?
Ceder aos fundamentalistas e ao conservadorismo não rendeu a Dilma estabilidade na presidência muito pelo contrário. É importante o apoio no Congresso; mas mais importante ainda é o apoio das ruas. E não há como apoiar um governo que se amedronta e deixa de cumprir promessas feitas a setores que historicamente sempre estiveram a seu lado. O PT possui uma dívida com as mulheres, com a população LGBT, com os índios, com os sem-terra, com os desaparecidos e mortos pela ditadura. Quem votar em Dilma agora estará apostando que ela seja capaz de saldá-la. Ou irá abandonar a presidente à própria sorte na primeira oportunidade, como aconteceu em junho.
Estou convencida de que nenhum dos candidatos à exceção de Luciana Genro, do PSOL, sem chances reais de vitória – possui as condições de fazer este movimento a não ser Dilma. Não enxergo em Marina autoridade ou vontade política para avançar nas questões LGBTs, por exemplo. E nem mesmo, apesar de seu passado ambientalista, na questão indígena, dadas as escolhas econômicas que está fazendo. O PSDB tampouco demonstrou, ao longo de sua trajetória, que estes temas lhe são caros. O PT, sim.
Com Marina no páreo, Dilma tem a vantagem de estar sem fundamentalistas a seu lado. Todos eles manifestaram apoio à candidata do PSB. É a hora, portanto, de assumir as posições que os desagradam. Senhores marqueteiros, ouçam-me: a conjuntura mundial, moralmente falando, mudou. Vejam o exemplo de Barack Obama nos Estados Unidos. Assumir posições progressistas não tira votos; acrescenta. E, mais que isso, propicia ao governante um suporte fundamental junto à população. São formadores de opinião, gente que fará diferença na hora em que outro “junho de 2013″ se anunciar no horizonte.
Caso seja eleita domingo, Dilma Rousseff terá pela frente dois caminhos a seguir. Ou faz um segundo mandato medíocre como Fernando Henrique Cardoso, em que todo mundo contava os dias para que acabasse, ou segue o exemplo de Lula, se aproxima dos movimentos sociais, e se supera em relação ao primeiro mandato. É preciso que Dilma faça sua escolha: se quer, mesmo sendo a primeira mulher a ocupar o cargo, tornar-se apenas mais um retrato na galeria dos presidentes da República ou se quer garantir o seu lugar na História.
Publicado em 1 de outubro de 2014