quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O desafio do vice



Nunca na história deste município um vice-prefeito teve tanto poder quanto o atual, Dr. Chicão, que hoje foi empossado na poderosa (e ainda nebulosa) Fundação Municipal de Saúde, que é formada a partir da fusão das fundações João Barcelos Martins e Geraldo da Silva Venâncio, mantenedoras dos hospitais Ferreira Machado e Geral de Guarus, respectivamente. 
A FMS será responsável, também, pela gestão de mais 6 unidades de saúde da rede de urgência e emergência 24h do município e pelo Hemocentro Regional. Somando ao poder, que está sendo esvaziado, da Secretaria de Saúde, onde está um afilhado do vice-prefeito, Paulo Hirano, tem-se, pela primeira vez o comando de uma área tão grande e tão importante nas mãos de um vice-prefeito. 

Antes dele, nos últimos 30 anos, apenas Wilson Paes foi tão bem tratado assim pelo chefe do executivo. Vice de Raul Linhares, Wilson Paes ganhou um ano de mandato (1982), com a renúncia do titular um ano antes do fim do mandato. Depois de Raul veio uma sucessão de vices na geladeira. Zezé Barbosa (1983-1988) não deixou o vice, Waldebrando Silva, governar nem um dia e nem lhe deu função no governo. 

Adilson Sarmet, vice no primeiro governo Garotinho, parecia ter destino diferente. Afinal, como médico respeitado, foi o grande avalista para eleição do radialista que era visto com muita desconfiança pela classe média e elites da época. No início do governo, Sarmet foi nomeado diretor do Hospital Ferreira Machado, ainda em fase de reabertura. A lua de mel durou pouco e uma crise, justamente na Saúde, fez o prefeito demitir o vice do cargo para o qual o nomeara. A partir daí azedaram para sempre as relações entre ambos. O rompimento, no entanto, não impediu Adilson Sarmet de assumir o governo, por uma semana, durante uma viagem de Garotinho ao Japão. 

O sucessor de Garotinho, Sérgio Mendes (1993/1996), até que tentou dar uma boa fatia de governo ao vice, Amaro Gimenes, e criou a Secretaria de Infraestrutura, agregando as pastas de Obras, Serviços Públicos e Transportes. Durou pouco pela falta de operacionalidade e o vice passou o resto do governo discretamente. 

No segundo governo Garotinho (que durou um ano e cinco meses), o vice, Arnaldo Viana, ocupou as secretarias de Saúde e Governo. Uma relação sem sobressaltos, até mesmo porque foi um governo que começou já em campanha pelo Governo do Estado. A prioridade era, portando, outra... 

Eleito em 2000, Arnaldo Vianna teve Geraldo Pudim como vice e a convivência durou até 2002, quando o prefeito rompeu com o antigo chefe. Pudim chegou a assumir o governo durante um período em que Arnaldo afastou-se para tratamento de saúde. 

Quanto a Carlos Alberto Campista e Toninho Viana, eleitos prefeito e vice em 2004, não há registro do relacionamento porque foram cassados cinco meses após a posse. 

Alexandre Mocaiber, eleito nas eleições suplementares de 2006, praticamente não conviveu com o vice, Roberto Henriques, por incompatibilidade surgida nos primeiros meses de governo. Afastado por decisão da Justiça Federal em 11 de março de 2008, Mocaiber foi substituído por Henriques por 43 dias. Foi, então, o vice-prefeito que mais tempo governou, desde Wilson Paes. 

Chicão, primo-irmão do marido da prefeita, com o comando da saúde nas mãos, pode se credenciar à sucessão de Rosinha em 2012, caso consiga equacionar os difíceis problemas da área de saúde. No entanto, também pode ser “queimado” se não conseguir fazer nada que mude o atual quadro, como por exemplo, a falta de tratamento oncológico no município. Uma vergonha para uma cidade com um orçamento anual de R$ 2 bilhões. 
Centenas de campistas são obrigados a se deslocar para o Rio, Itaperuna e Vitória em busca de um tratamento que Campos inexplicavelmente (talvez a incompetência explique) não oferece aos seus contribuintes. Muitos já morreram, inclusive, vítimas das estradas assassinas.
Se Chicão ganhou um presente ou uma armadilha, logo veremos.  

Atualização 1 - 16h31 - Do colega jornalista Aluysio Abreu Barbosa, recebi a informação que, "desde o último dia 11, o IMNE retomou seu serviço de radioterapia, conveniado com o SUS, a partir da reativação da sua bomba de cobalto". Menos mal.

Atualização 2 - 16h32 - Do ex-prefeito Sergio Mendes, recebi o seguinte e-mail, que registro com a satisfação de uma longa amizade: 

Ricardinho,
     Li atentamente sua análise no blog Eu penso que, a respeito da convivência dos ex-prefeitos com seus respectivos vices. Portanto, só para efeito de lembrança e registro, o saudoso Amaro Gimenes, era diabético, e no exercício de suas funções, teve um derrame, que o impossibilitou de continuar trabalhando. Sei, que é comum, as pessoas "renderem homenagens aos que se foram". Porém, devo ressaltar que além da falta do conselheiro no exercício do poder, naquele período, fiquei, sobretudo, sem a presença constante do meu saudoso amigo.

2 comentários:

Aluysio disse...

Caro Ricardo,

Exclente e didático artigo sobre o papel dos vice-prefeitos nas últimas três décadas da história política de Campos.Só teria uma retificação a fazer, quando você fala em "falta de tratamento oncológico no município" na medida que, desde o último dia 11, o IMNE retomou seu serviço de radioterapia, conveniado com o SUS, a partir da reativação da sua bomba de cobalto.

Fraterno abraço!

Aluysio

Ricardo André Vasconcelos disse...

Obrigado Aluysio pela colaboração.
Um abraço.
Ricardo