Artigo publicado na edição impressa desta terça-feira,11/08, página 2 da Folha da Manhã e no Blog Opiniões (aqui):
Princípios, senhores, princípios!
Por Ricardo André Vasconcelos
A eleição de 2016 não pode ser resumida a uma disputa do garotismo contra os filhotes do garotismo — sejam eles traidores, arrependidos ou meros oportunistas. Ao contrário, é necessário preparar a cidade para o pós-garotismo, agregando homens e mulheres de boa vontade, mesmo os que comungaram do ideário que se pretende mandar para o lixo da história, desde que atendam às premissas expressas numa Carta de Princípios. Não se dá um primeiro passo rumo à transformação dessa magnitude com lançamentos extemporâneos desse ou daquele nome. Antes dos nomes devem vir os princípios a que esses personagens estão dispostos a comprometer-se. O que vimos até aqui é se quer substituir um chefete por outro, mantendo os esquemas suspeitos de financiamento de campanha e sem qualquer compromisso assumido com a transformação.
Para mudar de verdade é preciso derrubar os paradigmas que norteiam o comportamento do qual discordamos. E Campos está numa situação tão ruim, mas tão ruim, que não basta mudar. E melhorar não é suficiente. É preciso transformar. E para fazer diferente, precisamos ser diferentes. Tanto no discurso quanto na prática. Mudança só de personagens não transforma o estado de coisas que repudiamos. Neste momento em que o município sofre uma queda significativa de arrecadação é justamente a oportunidade de rever as prioridades e implantar mecanismos de gestão adequados à nova realidade. E isso se faz com políticas públicas consequentes e não com o conhecido e repugnante clientelismo que é marca dos últimos governos.
Não basta trocar os gestores, mas os métodos de gestão definidos a partir de princípios pré-estabelecidos, objetivos definidos: Honestidade e transparência na gestão dos recursos públicos para promoção da cidadania. Simples assim.
O que assistimos nos últimos 25 anos foi uma crescente apropriação dos recursos públicos para irrigar projetos pessoais e que redundou na banalização da corrupção, degradação das instituições públicas, escravização das entidades privadas e sequestro do cidadão-eleitor com políticas ilusionistas de distribuição de renda que, na verdade, nunca passaram de compra de voto disfarçada de “promoção social”.
À sombra de lideranças autoritárias vicejam seguidores, uns fiéis por devoção, outros por interesses ocasionais, mas nunca surgem lideranças para a saudável, necessária e benfazeja oxigenação do exercício do poder. O grupo que comanda Campos dos Goytacazes nas últimas décadas chegou a tal grau de personalismo, que a administração da Prefeitura está passando da fase de ação entre amigos para espólio familiar.
Aliás, o primeiro pré-candidato a se lançar à sucessão de Rosinha, o deputado Geraldo Pudim, chega ao cenário da sucessão já com a marca do pecado original do apadrinhamento político. Preterido no grupo que o acolhe e elege há 30 anos, trocou Garotinho por Picciani porque descobriu que no PR, a partir de agora, só há espaço político relevante para quem foi batizado com o sobrenome do chefe. E prole é o que não falta!
O esquema eleitoral de Picciani é diferente do de Garotinho? Então Pudim não mudou de lado. Mudou de dono. Picciani, que teve 34 votos em Campos na última eleição, tem prestígio ou dinheiro para alavancar a campanha do ex-garotista?
Do outro lado, personagens com alguma possibilidade de vestir o figurino transformador, como os vereadores Marcão (PT) e Rafael Diniz (PPS) igualmente caem no mesmo vício de, primeiro buscar patrocinadores, depois definir os princípios, as armas com que pretendem implantar um tempo novo. Apresentam-se como eventuais candidatos da máquina comandada pelo governador Pezão. Mau começo!
A escolha do candidato (a) deve ser precedida de compromissos definidos por uma carta de princípios que poderá ser redigida pelo que sobrou da sociedade civil independente, mas que não pode deixar de fora alguns compromissos, sendo o primeiro deles estimular o financiamento de pessoas físicas através de campanhas de arrecadação junto aos que acreditam que é possível disputar e ganhar uma eleição para administrar uma cidade sem a tutela de empreiteiros e fornecedores. Mas, dentro dos limites da lei, aceitar doações de pessoas jurídicas, porém sem qualquer compromisso de contrapartida e com absoluta transparência para despesas e receitas de campanha.
Fora disso, perdoem o fatalismo, sem princípios o fim é o mesmo!
Publicado hoje na Folha da Manhã
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