Foto:Facebook de Caetano |
Caetano Veloso
O colunista escreve aos domingos
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Freixo outra vez
Gosto de Freixo não porque ele é do PSOL. Acho que
gosto um tanto do PSOL por ele abrigar Freixo. Sou independente,
conforme se vê. Ser estrela é bem fácil. Nada importam as piadas dos
articulistas reacionários que classificam minhas posições como Radical
Chic. Desprezo a tirada de Tom Wolfe desde o nascedouro. Antigamente
tentavam me incluir na chamada esquerda festiva. Isso sim, embora
incorreto, me agradava: a expressão brasileira é muito mais alegre,
aberta e democrática do que a de Wolfe. Mas tenho vivido para desmontar o
esquema que exige adesão automática às ideologias da moda. Deploro o
resultado das revoluções comunistas. Todas. E, considerando o Terror que
se seguiu a 1789, sou cético quanto a revoluções em geral. Na maioria
das vezes, a violência se dá, não para fazer a história humana caminhar,
mas para estancar seu fluxo. Olho com desconfiança os moços que entram
em transe narcisista ao quebrar vidros crendo que desfazem a trama dos
poderes. Ainda hoje não consigo adotar a posição que considera Eduardo
Gianetti, um liberal crítico, ou André Lara Rezende, o homem que põe em
discussão o crescimento permanente, conservadores. Nem acho que o
conservadorismo seja necessariamente um mal. A adesão de alguns colegas
meus à nova direita me deixa nauseado, não por ser à direita, mas por
ser automática.
Simplesmente me pergunto qual
exatamente será a intenção do GLOBO ao estampar manchetes e editoriais
induzindo seus leitores a ligarem Marcelo Freixo aos rapazes que
lançaram o rojão que matou Santiago Andrade. A matéria publicada no dia
em que saiu a chamada de capa com o nome do deputado era uma não
notícia. Nela, a mãe de Fábio Raposo, o rapaz que entregou o foguete a
Caio Souza, é citada dizendo acreditar que o filho “tem algum tipo de
ligação com Freixo”. Isso em resposta a uma possível declaração do
advogado Jonas Tadeu Nunes, que, por sua vez, partiu de uma suposta fala
da ativista apelidada Sininho. O GLOBO diz que esta nega. Como então
virou manchete a revelação da possível ligação entre o deputado e os
rapazes envolvidos no trágico episódio? Eu esperaria mais seriedade no
trato de assunto tão grave.
Li o artigo do grande
Jânio de Freitas em que ele defende a tese de intenção deliberada de
assassinar um jornalista, o que está em desacordo com as imagens
exibidas na GloboNews. Sem falar na entrevista do fotógrafo, que afirma
que o detonador do artefato tinha mirado os policiais. Claro que me
lembrei, ao ver a primeira reportagem na GloboNews, dos carros de
emissoras de TV incendiados durante as manifestações, o que me levou a
participar da indignação dos âncoras do noticioso. Um vínculo simbólico
entre aquelas demonstrações de antipatia e o ocorrido em frente à
Central é óbvio: um rojão sai das mãos de um manifestante e atinge a
cabeça de um jornalista. Mas parece-me abusivo ver nisso o propósito de
matar o repórter. Nas matérias que se seguiram, O GLOBO, ecoando falas
do advogado Jonas Tadeu, que diz não ser pago por ninguém para defender
os dois réus mas conta que um deles diz receber dinheiro para ir às
manifestações, insiste em lançar suspeita sobre Freixo, por ser o PSOL,
seu partido, um possível doador do alegado dinheiro. Na verdade, as
declarações do advogado, mesmo nas páginas do GLOBO, soam
inconvincentes. O mesmo Jânio de Freitas, em artigo posterior àquele em
que defende a tese de assassinato deliberado, se mostra desconfortável
com o comportamento de Jonas Tadeu. Já O GLOBO, no qual detecto uma
sinistra euforia por poder atacar um político que aparentemente ameaça
interesses não explicitados, trata as falas de Tadeu sem crítica. Uma
das manchetes se refere a vereadores do PSOL que teriam contribuído para
uma ação na Cinelândia, na véspera de Natal, sugerindo ligação do
partido com vândalos, quando se tratava de caridade com moradores de
rua. O tom usado no GLOBO é, para mim, de profundo desrespeito pela
morte de Santiago.
Freixo, em fala firme ao
jornal, desmente qualquer ligação com os dois rapazes. Ele também lembra
(assim como faz Jânio) que Jonas Tadeu representou o miliciano
Natalino.
Quando Freixo era candidato a prefeito,
escrevi artigo elogioso sobre ele. O jornal fez uma chamada de capa
que, a meu ver, desqualificava meu texto. Manifestei minha indignação. A
pessoa do jornal que dialogava comigo me assegurou não ter havido
pressão dos chefes. Acreditei. Agora não posso deixar de me sentir mal
ao ver a agressividade do jornal contra o deputado. Tudo — incluindo os
artigos de autores por quem tenho respeito e carinho — me é grandemente
estranho e faço absoluta questão de dividir essa estranheza com quem me
lê.
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